Amor, não sexo

As frias que me desculpem, mas paixão é fundamental.

Sobre a apresentação do GEB, ontem à noite em Porto Alegre, não há muito o que falar. Ou há. Jogar bola em carpete é de doer as amígdalas. Não conheço um único estádio de futebol na Inglaterra, Alemanha, Itália, Espanha, França e outros países com tradição no futebol, com carpete no lugar da grama. Nestes países, não sei de nenhum clube com time na primeira divisão, seja em clima quente ou frio, cujo piso do campo de jogo do estádio não seja de grama natural. Por isto é chamado de (atenção!) gramado. Só ouvi falar que este tipo de piso faz muito sucesso na Arábia Saudita e alguns países cujo esporte bretão acontece por acidente ou deleite de sultões e marajás sob um sol de 45°C.

Não sei de quem foi a genial ideia de colocar o carpete no Zequinha, mas o certo é que de futebol entende nada. Nunca deve ter, sequer, dado um mísero chute em um campinho. Não sabe o que é dar um carrinho em um gramado encharcado, com lama entrando por todas as cavidades. O máximo de experiência como jogador de futebol que deve ter vivido, foi um gol a gol com bola de plástico no corredor acarpetado do apartamento. E jogando com o chihuahua de estimação.

O futebol jogado neste piso artificial fica feio. A bola quica em excesso, o domínio fica comprometido e a marcação mais ríspida. Há um contato maior entre os jogadores. Como se isto tudo não bastasse, o campo aparenta ser pequeno. Conclusão, parece mais um futebol de 7 “indoor” com 11 em campo do que futebol de campo profissional. Nota zero para o Zequinha. Felizmente não saímos com ninguém machucado.

Como sempre, quem fez bonito foi a Torcida Xavante. Já antes das 18h30min o pessoal da Onda Xavante – Porto Alegre/RS, promoveu um sambão em frente ao bar Zequinha Beer. O bar fica localizado embaixo das arquibancadas do Passo D’areia e possui um atendimento muito diferenciado, além de um sortimento variado de cervejas bem geladas e pastel ( o “merchandise” é gratuito e sincero ). Com a surra e o rebaixamento do co-irmão sendo exibida ao vivo e em HD em um televisor especialmente disponibilizado, a festa correu solta até a hora do início da apresentação do GEB. E tem gente que acha que o samba morreu no futebol. Fazer o que?

Já no estádio, a comprovação. A Maior e Mais Fiel Torcida do Interior do Estado do RS é também a terceira maior torcida de Porto Alegre. Não sei quantos éramos. Talvez 500, 800 ou 1.000, sei lá. Mas éramos muitos. Muito mais do que a torcida do time local. A precisão não é importante. A quantidade não é tão relevante frente a qualidade. Torcida tem que ter alma, sentimento, paixão.

Torcida não é meia dúzia de gato pingado, que se dispõe a fazer barulho e cantar sempre a mesma coisa por 90 minutos sem parar, sem acompanhar o andamento da partida, sem sentir o momento, fazendo sempre um cântico de uma só nota, enjoado. Pode cantar em espanhol e até usar sombrinhas e purpurinas, não interessa. É chato, frio e sem graça. Torcida mesmo, sofre junto. Sente o gol que seu time leva assim como um lutador sente um soco nos rins. Sabe quando reclamar. Entende o momento de levantar e colocar lenha na fogueira, empurrar o time para frente. Torcer não é pular com ritmo. Torcer é vibrar, é desespero, é ansiedade, é êxtase.

Torcida mesmo, como a Torcida Xavante, faz amor com o seu time. O resto é só sexo.


Ivan Schuster
Onda Xavante

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