Era uma vez … | Ivan Schuster

… uma donzela que vivia no Planalto Central, pura e imaculada como a neve recém caída. Menina rica, de fino trato, usava perfumes caros e roupas de grife. Era o expoente de uma família muito tradicional. Família esta que tinha como patriarca um coronel muito famoso, dono de muitas posses, político influente na região, mas que no momento passava por alguns apertos com a justiça. Côsa pouca, uma diferençazinha que algumas centenas de milhões de reais. Não sei o termo jurídico, mas, em português bem claro, passava uma temporada no xilindró, condenado por lavagem de dinheiro, safadeza, roubo, corrupção e outros delitos de menor monta. Nada grave.

Pois a donzela esta, que nunca havia se entregue a ninguém, resolveu ir ao sul do país para participar de uma festa muito bonita, organizada por um grupo de índios Xavantes, famoso por ser um povo feliz, festivo, de muita tradição e respeitado por possuir um exército de guerreiros que lutavam de forma incansável, honrando seus antepassados e a história centenária da tribo.

Pôs bueno. Donzela na festa, dança vai, dança vem, aperta daqui, apalpa dali, gira para um lado e para o outro, e … crau. Se foi a donzela. E não só uma vez, mas duas. Quase três. E com dois guerreiros diferentes. E gostou, pois saiu do baile dizendo-se satisfeita.

A bem da verdade, deve-se ressaltar que a prenda tentou se preservar. Os deuses são testemunhas que fez de tudo para resistir. Fez até um certo charminho na primeira metade da festa, com beicinho e tudo. Mas, a medida que os tambores eram tocados, que o povo cantava e festejava a felicidade por estarem ali naquele momento, a donzela foi deixando-se levar pelos encantos da festa, pela beleza e força daquele povo, e não resistiu. Bastou um bafo quente na nuca, um roçar da unha do dedão no calcanhar, e foi-se a barca. Já era. Fato consumado. Que felicidadiiiiiiii!!!!!

Mas esta estória não termina aqui. Agora o povo Xavante foi convidado para um baile lá na casa grande do coronel aquele. Ele não deverá estar presente, pois ainda vê o sol nascer quadrado, mas o clima não é bom. Da festa em si não se espera muito. Festa de rico. Muito prá-que-isso e pouca animação e espontaneidade. Muito champanhe, docinhos, salgadinhos e pouco vuco-vuco. Se bem que, onde tem Xavante …

A questão é que comenta-se na senzala da casa grande que o coronel deu ordens para os jagunços garantirem que a ex-donzela não seja mais importunada. Até o juíz de paz foi contratado a peso de ouro para forçar um matrimônio e assim salvar a honra da tradicional família. O problema é saber se haverá entre os Xavantes um noivo que se apresente. Acredita-se que não. Na verdade, a donzela nem é tão bonita assim. Jeitosinha, mas gordinha, lerda, com gênio ruim e até com maus hábitos. Com se diz na minha terra, não é menina para casar, só para diversão.

 

Abs.


Ivan Schuster
Onda Xavante

Deixe um comentário