Arquivo diários:20/10/2014

Voltando | Ivan Schuster

Difícil descrever a tranquilidade e felicidade que estou neste momento. Estou em paz com o mundo. Ontem foi um dia tenso, sofrido, angustiante. E precisava ser assim. O fruto de um trabalho suado, árduo, é sempre melhor. Diz o dito popular que o que vem fácil, vai fácil. Sendo isto verdade, esta vaga não será esquecida tão cedo. Permanecerá entre nós por muitos anos.

O espetáculo por si só, já ensejava muita apreensão. O que mais se escutava era “vai ser complicado”. E foi mesmo. Quando tomamos o segundo gol, pensei em chamar a SAMU. Precisava de oxigênio, desfibrilador, transfusão de sangue, estas coisas. Carecia de vida. Comecei a sentir o calor do fogo do inferno, o cheiro de enxofre, o grito das almas perdidas que lá penam. Seria este o nosso caminho? A vida é dura, companheiro.

Eu estava preparado para uma pedreira, mas dois a zero já no primeiro tempo, foi duro. Não estava no roteiro. E aí veio o gol do Nena. Salvador. Um sopro de vida, uma luz na escuridão. Diga-se a bem da verdade, um golaço. Jogada trabalhada, treinada, executada com perfeição. Uma aula de futebol bem jogado. A depressão deu lugar a esperança. Sim, companheiras e companheiros de aflição, estávamos novamente no jogo. Era fazer mais unzinho e tudo estaria resolvido. Fazendo um, eles precisariam de mais dois gols. Haja coração. Vai Brasil!

Os nossos Guerreiros Xavantes deram tudo o que tinham, mas o gol derradeiro não veio. Eduardo Martini foi brilhante. Gostaria de saber como estão se sentindo neste momento os que vaiaram o nosso goleiro na apresentação frente ao Ituano. A meu ver o maior responsável pelo nosso sucesso ontem. Um paredão. Nada como um dia após o outro. O vilão virou herói. Não bastasse duas defesas sensacionais durante a apresentação, ainda catou dois pênaltis. Arrependei-vos que ainda há tempo. Vá ao Bento Mendes de Freitas e peça perdão por ter pecado. Reconhecer o erro é nobre. Redima-te, pois.

No momento que antecedia a cobrança dos pênaltis, eu pensei comigo: Saímos atrás no marcador na apresentação no Caldeirão e conseguimos virar; Saímos tomando dois na Boca do Jacaré e conseguimos fazer um para levar a decisão para os pênaltis; A vaga é nossa. E foi aí que eu quase caí da cadeira. O Nena erra a primeira cobrança e ficamos atrás no placar, mais uma vez. Mais sofrimento. Minutos intermináveis até a última cobrança executada com perfeição pelo Rafael Forster. A vaga veio. Ninguém nos tira mais. Por três vezes nos derrubaram, mas não nos nocautearam. No fim, a paixão venceu o milhão. Dia tenso na penitenciária federal.

Que momento. Indescritível! Foi como se tivessem tirado um caminhão cheio de pedras de cima do meu peito. Sai de mim coisa ruim! Vá-te retro capeta dos infernos! Xô encosto! Saímos da antessala do purgatório. Temos vida. O Xavante está voltando para casa. Arreda, chora e sai da frente.

Abs.


Ivan Schuster
Onda Xavante