Arquivo diários:21/10/2014

Alô Série C, chegamos!

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Torcida do Brasil comemora o acesso à Série C no Serejão. Foto: Blog Xavante

por Marcelo Barboza

Fiquei horas pensando no que escrever aqui e nada veio à cabeça. Ainda estou meio abalado com tudo que aconteceu nesse final de semana. Vira e mexe me encontro com os olhos marejados relembrando de alguns momentos vividos em Brasília. Seja dirigindo na rua, em minha mesa no trabalho ou em casa. A lágrima vem e a emoção toma conta. O que aconteceu em Brasília jamais sairá de minha memória e contarei à meus netos e bisnetos.

Não foi apenas um jogo de futebol onde o G.E.Brasil conquistou a vaga para a Série C do Campeonato Brasileiro. Toma emoção e raiva acumulada nos últimos anos foram extravasadas no Serejão, estádio do Brasiliense. Ano passado deixamos o inferno da segundona e esse ano jogamos um Gauchão quase perfeito. Mesmo assim faltava algo. Algo que nos foi tirado na mutreta do STJD, CBF e FPF em 2011. Lembrei do nosso Castelhano, que dizia que o Brasil tem obrigação de jogar competições nacionais pelo tamanho da torcida que possui. Lembrei de Belo Horizonte em 2009, do Acre em 2008 e dos anos que jogamos Gauchões para não cair. Lembrando de tudo isso, embarquei para Brasília no sábado a tarde com meu bruxo Thiago Nunes, com o qual dividi arquibancada em Itu e Palhoça e somamos seis pontos. Nos hospedamos no mesmo hotel que grande parte dos nossos amigos também estavam. Só deu tempo de chegar no quarto e descer para encontra-los. Compramos algumas cervejas para animar a conversa e começamos o pagode ali mesmo no hotel. O gerente do hotel, que filmava nossa bagunça, disse que enquanto ninguém reclamasse da nossa cantoria, poderíamos ficar ali. Pita arrebentando as cordas do banjo e Sid abraçado em sua cubana davam o tom. Lá pelas 23h o gerente apareceu, meio que contrariado, mas pediu para encerrarmos a bagunça. Carregamos as caixas de cervejas e nos abrigamos em uma pracinha perto do hotel. Lá o banjo e a cubana seguiram o baile. Com direito a volta olímpica e tudo. Nos imponentes prédios que rodeavam a praça, moradores abriam as janelas para olhar o nosso show. Tipo camarote. A polícia passou, sorriu e foi embora. Ali ficamos até às 3 horas da manhã.

Eis que o domingo chegou. O dia da decisão. A estação Concessionárias, em Águas Claras, foi tomada pela Xavantada. Uma coisa sem noção. Os seguranças do metrô filmavam e tiravam fotos daquilo que para eles era estranho e para nós tão comum de fazer, seja em Bagé ou Brasília. Invadimos. Três vagões foram lotados pela Xavantada com viagem direto no Serejão. É muita exclusividade. Nos arredores do estádio encontramos o pessoal que foi de busão, de Pelotas. Esses merecem todo o nosso respeito. Lá encontrei o Cristiano, vulgo Xirequi, um grande bruxo. Além da cara de cansado, dava pra ver o nervosismo dele. Ali encontrei outros vários amigos. E entre eles o Daniel Brahm, o homem do “toma seus merdas”, o meu ex-colega de ETFPel e parceiro de Blog Xavante. Enfim nos encontramos em um jogo do Brasil. Ali ficamos tomando uma gelada e curtindo os trinta e poucos graus e a baixa umidade de Taguatinga.

Entramos no estádio e recebemos a notícia que tínhamos cerveja à nossa disposição na Copa. Daquelas, com álcool, tá ligado? Ali eu vi que o domingo seria nosso. O jogo começou e o Brasiliense começava melhor. E rapidamente eles abriram um a zero com o Luiz Carlos. Achei cedo demais para levar um gol. Mas tudo bem, ainda estava no início. Mas ai o Luiz Carlos fez mais um e veio na nossa cara bater no peito e falar que ele quem mandava ali. Vontade de matar aquele gordo maldito. Quadrado que nem o Bob Esponja. Enquanto eu bufava de raiva, Alex Amado deixou o Nena pifado e ele guardou. Fui da raiva ao delírio em segundos. Isso é louco demais. Confesso que me faltou ar no intervalo, minutos depois do gol do Nena. A euforia foi ao extremo e não tenho mais idade para isso.

Na segunda etapa fiquei em pé atrás das arquibancadas, espiando o jogo e rezando para não irmos para os pênaltis. Nunca havia visto o Brasil ganhar uma disputa de pênaltis. A Copinha de 2007 e o Olímpico de 1996 vinham em minha cabeça. Quando o Martini defendeu aquela cabeçada do Luiz Carlos aos 43 do segundo tempo eu tive duas certeza, que aquele dia seria nosso e que quase me caguei. Já tinha aceitado os pênaltis. Xirequi, Vanessa, Bruna, Fura e Léo B preferiram não assistir aos penais. Ficaram de longe olhando pra mim e eu, no auge do meu apavoramento, ia informando a eles o que acontecera. Comecei com a má notícia do pênalti perdido pelo Nena. Depois quase me mataram quando o Martini defendeu um pênalti mas a bola entrou. Sai vibrando achando que ele tinha defendido. Mas tive que dar a má notícia novamente. Quando ficamos pela cobrança do Forster, quatro deles já estavam jogados no chão e apenas o Xirequi aguentava ficar em pé. Forster ajeitou a bola e eu me abracei em um senhor que estava sereno como um áureo-cerúleo de férias. Ele disse pra eu ficar calmo que o “Alemão” não ia errar. Forster partiu, para mim em câmera lenta, e guardou. Virei para trás e os cinco me olhavam. Depois disso lhes confesso que pouco lembro do que aconteceu. Lembro apenas de sair correndo, abraçar o Xirequi e quando me dei conta já havia descido toda arquibancada e estava aos prantos na tela. Ali eu vi que não era apenas eu que estava aos prantos, a comoção era geral.

O sentimento de felicidade, misturado com alívio, tomava conta de todos. Aproveitamos para comemorar e agradecer aos nossos guerreiros.

Ali, uma fase negra, que já havia se afastado, foi para longe para nunca mais voltar. O trauma dos pênaltis foi para as cucuias. Podemos extravasar todos os anos de angústia que essa torcida tinha vivido. Após toda a comemoração no estádio, voltamos à estação de trem e retornamos ao hotel. De lá saímos para jantar, bem mais leves do que quando chegamos à Brasília. A felicidade e tranquilidade eram visíveis no rosto de cada um de nós. Enfim, podíamos voltar para casa felizes, mais leves e na Série C.

Abaixo um pouco do que foi o jogo em Brasília. Amanhã postaremos o material sobre a festa na recepção da delegação e tudo mais que envolveu esse final de semana inesquecível.

Aproveitem e se emocionem novamente.

Um abraço, Marcelo Barboza.

VÍDEOS

Compacto Blog Xavante

Melhores momentos TV Brasiliense

Reação da torcida aos pênaltis

ÁUDIOS

* cedidos pela Rádio Pelotense AM

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A maior de todas as taças

Pensei em contar esta história partindo do pressuposto de que coube ao Brasil de Pelotas consolidar a utopia de Juscelino. A Brasília criada pelo presidente que pensava ao longe, concebida para nos solidificar geográfica e moralmente como país, assumiu o papel centralizador de nossas safadezas. No país imaginário onde vivemos, só habita gente honrada e honesta, impedida de se tornar uma Suécia pelos inquilinos do Planalto Central.

Mesmo sem compactuar com esta visão simplista, vesti a camisa da Pênalti da temporada de 1998, a mesma envergada no jogo vencido em campo e perdido nos tribunais lá em Santo André, três espinhosos anos atrás. A opção pelo figurino da partida do rebaixamento refletia meu desejo de encerrar um ciclo sombrio e imerecido. Brasília ia enfim patrocinar a Justiça, pelo menos para um bando de brasileiros ao Sul do Sul. Bem, este era o roteiro mentalmente formulado. Mas o que houve na tarde de 19 de outubro de 2014 foi algo emocionalmente tão denso, que recorrer a um clichê seria desonesto – com Brasília e conosco.

Enquanto dedilho este texto, lá se foram 48 horas desde que, a uns 150 metros de distância, vi o Forster sacolejar a rede dos caras no pênalti derradeiro. Ali perdi os sentidos. Se meu peso não fosse medido em três dígitos, diria que levitei pelas arquibancadas. Quando recuperei a consciência, estava encostado no alambrado do Serejão, gritando frases desconexas de gratidão ao Rogério. Suponho que ele tenha entendido. E até agora estou aprisionado num pensamento incapaz de sair da órbita das emoções vividas no final de semana.

Lembro de um rapazote diante do Congresso Nacional, que, aturdido com a quantidade de gente com a camisa do Xavante, tomou coragem e me abordou.

– Tchê, sou de Pelotas, sou xavante, mas moro há muito tempo fora. Por que estão tantos de nós circulando pela Esplanda dos Ministérios?

Respondi enciclopedicamente e cassei-lhe o direito de se declarar xavante. Não existe xavante não praticante. Ou se é, ou não se é. Ponto. Cumpra-se.

Lembro do Vanderlei do Free Shop do Aeroporto de Brasília. Veio até nós, quando corríamos para não perder o voo de volta a Sampa, salivante, perguntando quanto fora o jogo. Revelou ser sócio do clube e praguejou contra o patrão, insensível a ponto de negar-lhe uma folga em dia estratégico. Mas estranhei a narrativa feita num pronunciado sotaque do Cerrado, algo entre o mineiro e o baiano.

– Sou de Brasília, mas vivi durante 16 anos em Pelotas. Voltei em abril para cuidar do meu pai, sou filho único. Quando botei os pés na Baixada, no final dos anos 90, desisti de ser flamenguista na hora.

Lembro da forma triunfal como irrompemos o Eixo Monumental na boleia da Kombi do Carlos Leite, colega com quem trabalhei no Vale dos Sinos 15 anos atrás e, a despeito deste distanciamento cronológico, ainda estava suficientemente perto para me buscar no aeroporto. No domingo, já o flagrei vestindo a camisa Wilson, temporada 2011, que lhe presenteei. Valeu, Leite!

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Céu de Brasília no dia do acesso

Lembro do meu ceticismo religioso fraquejando, quando, ansioso, despertei junto com o sol no Distrito Federal. Da janela do hotel, divisei o horizonte tingido de vermelho e preto, como atesta a foto. Não estou daltônico, né? Por favor, atestem minha sanidade mental e ótica! Se o João de Santo Cristo de Faroeste Cabloco ficou bestificado com a cidade, a cidade ficou bestificada com o Xavante.

Lembro, sobretudo, da mais linda reação coletiva vista por mim não só naquela tarde, mas em toda a jornada da quarta divisão. E falo como testemunha privilegiada. Fiz uns cálculos que, divulgados fora de contexto, poderiam inclusive abalar a solidez do meu matrimônio. Rodei 2,2 mil quilômetros e voei 1,3 milhas aéreas atrás do meu clube. Só divulgo os números com alguma segurança porque cheguei a eles sob a companhia carinhosa e paciente da Nêga Velha e dos meninos, por mim arrastados a Itu e Cabo Frio. Estou muito longe de ser o único. Sob os desérticos 35 graus com 15% de umidade de Taguatinga, identifiquei rostos que, um mês antes, estavam sendo acariciados pela brisa do mar na Região dos Lagos. Nunca estivemos tão firmes neste propósito de não deixar o Xavante jogar sozinho.

Falava da cena bonita. Pois bem. Logo depois da vitória, estive à beira de um desmaio, mas, agarrando-me aos sentidos sobreviventes, notei muitos sacando o celular e dedilhando com ansiedade. Quando alguém atendia do outro lado, desabavam em prantos.

– Só consigo lembrar de ti!

Lembrar, lembrar e lembrar. O escritor inglês Nick Horbny diz, em “Febre de Bola”, livro onde narra suas sandices pelo Arsenal, que a obsessão pelo futebol, sobretudo quando o clube ajuda a compor nossa personalidade, é uma manifestação de carência. Porque o que o sujeito deseja, lá no íntimo, é o conforto de sentir os outros lembrando dele ao saber alguma coisa do tal time. Hornby é um sábio. Inventamos obsessões particulares em razão do outro. São os humanos quem nos fazem mais humanos. A gente viaja longe para ficar mais perto.
Acho que a coisa é mais ou menos assim: o Xavante nos ajuda a amar. Não só ele, mas os outros.
E isto, meus amigos, creiam, é a maior de todas as taças.

*

Antes de encerrar, me permitam uma metáfora particular. Comecei esta viagem às 4h da madrugada de sábado, dia 18, na estação Sumaré do metrô paulistano. Viajei sozinho num vagão cortando as entranhas de uma cidade com 11 milhões de habitantes, coisa incomum. No domingo, perto das 19h do dia 19, embarquei no metrô de Brasília numa condição completamente diferente. Desci na estação Concessionárias, em Águas Claras, mas aquele trem jamais descerá de mim.

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A comparação destes dois momentos talvez seja o melhor jeito de representar como o Brasil de Pelotas preenche nossas vidas.

Fotos: arquivo pessoal

Fabrício Cardoso

A maior de todas as taças

Pensei em contar esta história partindo do pressuposto de que coube ao Brasil de Pelotas consolidar a utopia de Juscelino. A Brasília criada pelo presidente que pensava ao longe, concebida para nos solidificar geográfica e moralmente como país, assumiu o papel centralizador de nossas safadezas. No país imaginário onde vivemos, só habita gente honrada e honesta, impedida de se tornar uma Suécia pelos inquilinos do Planalto Central.

Mesmo sem compactuar com esta visão simplista, vesti a camisa da Pênalti da temporada de 1998, a mesma envergada no jogo vencido em campo e perdido nos tribunais lá em Santo André, três espinhosos anos atrás. A opção pelo figurino da partida do rebaixamento refletia meu desejo de encerrar um ciclo sombrio e imerecido. Brasília ia enfim patrocinar a Justiça, pelo menos para um bando de brasileiros ao Sul do Sul. Bem, este era o roteiro mentalmente formulado. Mas o que houve na tarde de 19 de outubro de 2014 foi algo emocionalmente tão denso, que recorrer a um clichê seria desonesto – com Brasília e conosco.

Enquanto dedilho este texto, lá se foram 48 horas desde que, a uns 150 metros de distância, vi o Forster sacolejar a rede dos caras no pênalti derradeiro. Ali perdi os sentidos. Se meu peso não fosse medido em três dígitos, diria que levitei pelas arquibancadas. Quando recuperei a consciência, estava encostado no alambrado do Serejão, gritando frases desconexas de gratidão ao Rogério. Suponho que ele tenha entendido. E até agora estou aprisionado num pensamento incapaz de sair da órbita das emoções vividas no final de semana.

Lembro de um rapazote diante do Congresso Nacional, que, aturdido com a quantidade de gente com a camisa do Xavante, tomou coragem e me abordou.

– Tchê, sou de Pelotas, sou xavante, mas moro há muito tempo fora. Por que estão tantos de nós circulando pela Esplanda dos Ministérios?

Respondi enciclopedicamente e cassei-lhe o direito de se declarar xavante. Não existe xavante não praticante. Ou se é, ou não se é. Ponto. Cumpra-se.

Lembro do Vanderlei do Free Shop do Aeroporto de Brasília. Veio até nós, quando corríamos para não perder o voo de volta a Sampa, salivante, perguntando quanto fora o jogo. Revelou ser sócio do clube e praguejou contra o patrão, insensível a ponto de negar-lhe uma folga em dia estratégico. Mas estranhei a narrativa feita num pronunciado sotaque do Cerrado, algo entre o mineiro e o baiano.

– Sou de Brasília, mas vivi durante 16 anos em Pelotas. Voltei em abril para cuidar do meu pai, sou filho único. Quando botei os pés na Baixada, no final dos anos 90, desisti de ser flamenguista na hora.

Lembro da forma triunfal como irrompemos o Eixo Monumental na boleia da Kombi do Carlos Leite, colega com quem trabalhei no Vale dos Sinos 15 anos atrás e, a despeito deste distanciamento cronológico, ainda estava suficientemente perto para me buscar no aeroporto. No domingo, já o flagrei vestindo a camisa Wilson, temporada 2011, que lhe presenteei. Valeu, Leite!

ceudebrasilia001

Céu de Brasília no dia do acesso

Lembro do meu ceticismo religioso fraquejando, quando, ansioso, despertei junto com o sol no Distrito Federal. Da janela do hotel, divisei o horizonte tingido de vermelho e preto, como atesta a foto. Não estou daltônico, né? Por favor, atestem minha sanidade mental e ótica! Se o João de Santo Cristo de Faroeste Cabloco ficou bestificado com a cidade, a cidade ficou bestificada com o Xavante.

Lembro, sobretudo, da mais linda reação coletiva vista por mim não só naquela tarde, mas em toda a jornada da quarta divisão. E falo como testemunha privilegiada. Fiz uns cálculos que, divulgados fora de contexto, poderiam inclusive abalar a solidez do meu matrimônio. Rodei 2,2 mil quilômetros e voei 1,3 milhas aéreas atrás do meu clube. Só divulgo os números com alguma segurança porque cheguei a eles sob a companhia carinhosa e paciente da Nêga Velha e dos meninos, por mim arrastados a Itu e Cabo Frio. Estou muito longe de ser o único. Sob os desérticos 35 graus com 15% de umidade de Taguatinga, identifiquei rostos que, um mês antes, estavam sendo acariciados pela brisa do mar na Região dos Lagos. Nunca estivemos tão firmes neste propósito de não deixar o Xavante jogar sozinho.

Falava da cena bonita. Pois bem. Logo depois da vitória, estive à beira de um desmaio, mas, agarrando-me aos sentidos sobreviventes, notei muitos sacando o celular e dedilhando com ansiedade. Quando alguém atendia do outro lado, desabavam em prantos.

– Só consigo lembrar de ti!

Lembrar, lembrar e lembrar. O escritor inglês Nick Horbny diz, em “Febre de Bola”, livro onde narra suas sandices pelo Arsenal, que a obsessão pelo futebol, sobretudo quando o clube ajuda a compor nossa personalidade, é uma manifestação de carência. Porque o que o sujeito deseja, lá no íntimo, é o conforto de sentir os outros lembrando dele ao saber alguma coisa do tal time. Hornby é um sábio. Inventamos obsessões particulares em razão do outro. São os humanos quem nos fazem mais humanos. A gente viaja longe para ficar mais perto.
Acho que a coisa é mais ou menos assim: o Xavante nos ajuda a amar. Não só ele, mas os outros.
E isto, meus amigos, creiam, é a maior de todas as taças.

*

Antes de encerrar, me permitam uma metáfora particular. Comecei esta viagem às 4h da madrugada de sábado, dia 18, na estação Sumaré do metrô paulistano. Viajei sozinho num vagão cortando as entranhas de uma cidade com 11 milhões de habitantes, coisa incomum. No domingo, perto das 19h do dia 19, embarquei no metrô de Brasília numa condição completamente diferente. Desci na estação Concessionárias, em Águas Claras, mas aquele trem jamais descerá de mim.

metrovazio002
A comparação destes dois momentos talvez seja o melhor jeito de representar como o Brasil de Pelotas preenche nossas vidas.

Fotos: arquivo pessoal

Fabrício Cardoso