Síndrome de abstinência | Ivan Schuster

Que momento nós, Xavantes, estamos vivendo. Estamos em paz, com a alma leve. Fui assistir a apresentação do GEB – o GEB não joga, apresenta-se – ontem à noite em Pelotas e falei com muita gente. Amigos, velhos conhecidos, novos conhecidos, gente que me conhecia, alguns que eu conhecia de vista, outros que possivelmente nunca mais verei na vida. Todos Xavantes. E percebi algo em comum, estavam leves, de bem com a vida. Não temos mais aquela nuvem negra pairando sobre nossas cabeças. Livramo-nos daquela esperança angustiante de sonhar com um time que nos desse orgulho. O dia chegou. Estamos vivendo o momento. Temos um time do qual nos orgulhamos. 2014 é um ano para não ser esquecido. Gringolândia, tremei! Estamos chegando.

Não vamos mais assistir o GEB com aquele sentimento de angústia, desconfiança, medo, desespero. Vamos ao Templo confiantes, de cabeça erguida, projetando vitórias históricas e certos do “temos tudo para ganhar”. A conversa não é mais sobre o quem é o pior, onde está a falha do time, mas sobre o valor de cada guerreiro, a garra e dedicação e, obviamente, sobre o maior craque de todos, Rogério Zimmermann.

Fico puxando pela memória e não me recordo de outro clube que tenha, ou teve, o treinador como seu maior astro. Pois nós temos. O professor é unanimidade. Obviamente que ainda existem um ou dois nós cegos que insistem com a tese da volantolândia. Coitados. Tenha piedade Senhor, eles não sabem o que dizem. Provavelmente são almas sofridas em outras encarnações. Rogério Zimmermann é o cara. Habemus carpento! Chora secador.

O espetáculo de ontem foi um evento de grandes dimensões. Casa cheia como há muito não se via. Não é todo time que enche seu estádio com a própria torcida. Alguns nunca conseguiram. Dá para afirmar com muita convicção que o Bento Mendes de Freitas estava lotado, bem lotado. É certo que o nosso time de guerreiros não estava em uma noite feliz. Erraram muito, insistiram em jogadas aéreas sem futuro e demonstravam uma pressa e nervosismo não usuais. Resumindo, uma apresentação ruim, bem abaixo do que poderiam produzir. Chegou a surpreender. Estamos acostumados a melhores apresentações. Quem mandou nos mimarem?

Por sua vez, nós Torcedores Xavantes, também não estávamos nos nossos melhores dias. O Caldeirão estava cheio, transbordando, mas não fervia como em outras ocasiões. É fato que time e Torcida no Bento Mendes de Freitas andam juntos. Não somos do tipo de torcida que fica cantando uma coisa só o tempo todo e independente do que acontece em campo. Nós somos um só ente. Quando um está mal o outro sente. Rimou. Virei poeta. ABL que me aguarde. Mas, ao fim e ao cabo, não foi uma noite de pesadelos. Estamos vivos, bem vivos.

Há de se valorizar o time adversário. Não dá para desprezá-los. Uma equipe muito bem montada, jogando de forma segura, tocando bola para o lado, só na espera da oportunidade para dar o bote fatal, a qual, felizmente, não apareceu. Aliás, quase apareceu. Uma cena trágica só não aconteceu porque o nosso guarda-metas foi impecável. O Ânderson fez uma partidaça. Quem tem saudades do Müller? Como sempre, Cirilo foi destruidor. O atacante da Tombense vai ter pesadelos com a lembrança do bafo do Cirilo na nuca dele.

Na volta para Porto Alegre, já alta madrugada, me dei conta de uma coisa, Ficarei mais de 2 meses sem o prazer de ir ao Bento Mendes de Freitas. Confesso-lhes que já me deu saudades. Fiquei com a sensação de um vazio imenso. Senti-me desamparado, abandonado, quase liguei para a mãe. Como deixar de ter estes momentos vividos nos últimos 2 anos nos próximos 2 meses? Acho que sou Xavante dependente. Não procurarei tratamento. É uma dependência sadia.

Tem muito torcedor por aí que torce para o mundo acabar, só para não ter que sentir mais a aflição de ver seu time em campo, fazendo jogos pífios, com meia dúzia de almas na arquibancada comendo amendoim com polenta frita. Já nós, Torcedores Xavantes, estamos desde já ansiosos e nervosos para que o tempo passe logo, para podermos novamente ir ao Bento Mendes de Freitas confraternizar com os nossos guerreiros e libertar as nossas almas de todos os pecados no mundo.

É bom ser Xavante!

Abs.


Ivan Schuster
Onda Xavante

 

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