Isso é Xavante | Ivan H. Schuster

Minhas companheiras e meus companheiros de arquibancada, que momento! Não dá para se queixar nem do frio, do vento ou da chuva. Na verdade, foi tudo armado com São Pedro. Jogamos com doze. Os onze Guerreiros e São Pedro. Teve atleta deles que jogou de luvas. Pensei que no segundo tempo viriam de galochas e manta enrolada no pescoço. Tiveram sorte que este ano o inverno foi ameno e praticamente já estamos no verão.

Foi uma apresentação de gala. Uma tarde para lembrarmos para o resto de nossas vidas. Uma daquelas apresentações para se dizer “eu estava lá, eu participei”. O Bento Freitas estava bonito. O Caldeirão sem arquibancada é morno, com arquibancada ferve. E se a Torcida Xavante fazia a festa nas arquibancadas, os nossos Guerreiros não fizeram menos dentro de campo. Foram aplaudidos em pé. Que partidaça!

Foi um domínio completo. Acho que nem o mais ferrenho corneteiro poderá discordar. Apresentamo-nos com a grandeza do nosso orgulho e felicidade de sermos Xavantes. O adversário está longe de ser um time fraco. Aliás, foi o melhor que enfrentamos até o momento. Valorizaram muito a nossa vitória, mas não conseguiram nos superar em momento algum. Os comandados do RZ tiveram um controle completo e total os noventa e tantos minutos. Digo mais, saiu barato para o Fortaleza. Ainda não entendi como não entrou aquela bola que o Nena mandou de cabeça na trave. Eu estava na linha da bola e vi que entraria. Eu pisquei e ela foi na trave. Estou me sentindo culpado.

Foram duas semanas de angústia e tensão colocadas para fora em um grito de gol. Um momento único de euforia, de libertação, de magia e de felicidade extrema. Eu desconfio de pessoas que não se emocionam com o gol do seu time, ainda mais se este time for o GEB. Juro que senti o capeta saindo pela boca, enquanto eu gritava sei lá o que. Senti-me livre, como se flutuasse, acima do bem e do mal. Era o gol do meu Xavante. Tenho certeza que o mundo parou para que os deuses do futebol pudessem festejar. Foi muito bom. Chora secador!

Conhecedor contumaz de toda esta emoção, atrevo-me a deixar um conselho para os nobres Xavantes frequentadores das cadeiras cativas. Experimentem um dia, uma única vez, cantarem, ficarem em pé, pularem, baterem palmas no ritmo da charanga, apoiarem as jogadas, mesmo quando não saem perfeitas. Enfim, experimentem ser Torcedor. Deixem-se levar pela emoção. Abram mão das análises, da crítica, de ficarem prestando atenção nos erros e sintam a emoção impagável que é a de torcer, apoiar de forma incondicional e ser recompensado com um gol. Chega a dar pena vê-los sentados tão sem graça, enquanto o espetáculo rola solto no resto do estádio. Experimentem ir para a arquibancada e deleitem-se com o calor da vibração da massa ao som da charanga. Não dói, faz bem ao corpo e, principalmente, à alma. É viciante. É vida. É Xavante!

Não sei se classificaremos. O que sei é estamos com boas chances. Não apenas pela vitória conquistada, mas principalmente porque temos um bom time. Muito bom time. Um excelente time. Um time como há muito não víamos na Baixada. Time forte, coeso, lutador, que toca a bola com qualidade, que joga de cabeça em pé, que não se abate e não se assusta. Um time que valoriza e honra o manto que veste. Um time com a alma Xavante.

A todos aqueles que, já lá atrás, quando empatamos com os Polenta em casa, diziam que estava tudo acabado, que não tinha jeito, que o RZ era teimoso, que o plantel era fraco, que havíamos chegado ao nosso limite, meu cordial “vai carpir, corneteiro!”. E não esqueçam de reconhecer que estavam errados, que não entendem nada de futebol e que, na verdade, são apenas corneteiros. Xavantes, mas corneteiros.

À nossa querida imprensa esportiva pelotense, que por tanto tempo e com muito esforço tenta nivelar por baixo o futebol da cidade, deixo uma frase do imortal colunista social carioca, Ibrahim Suede: As vaca ladram e a caravana passa.

Abs.