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Casa nova, vida velha

por Antonio Roxo

Os olhos daquele guri que nos idos dos setentas entrou pela primeira vez no Bento Freitas e foi engolido pela emoção de estar pela primeira vez na casa do time do seu coração, do coração de seu pai, são os mesmos que hoje avidamente não desgrudam da tela do computador ou do celular (porque moro longe) acompanhando cada centímetro da nova casa que se constrói.

Não tenho dúvidas que essa emoção que, ainda bem, substitui aquela de ver nossas velhas arquibancadas indo ao chão, é sentida por todos aqueles que começam a saborear a Baixada já na descida da Princesa Izabel quando a fumaça do churrasquinho começa a tomar conta do ar fazendo parte do ritual de amor e expectativa de mais uma vitória. Essa emoção histórica, tenho certeza, não se perderá na nova casa. Pelo contrário, se intensificará pelo orgulho de conseguirmos acompanhar estruturalmente aquilo que vem acontecendo nas quatro linhas.

Como não se emocionar vendo aquilo que foi construído pelo esforço de nós mesmos indo abaixo mesmo que, em nossa racionalidade há muito tempo, a mensagem era de que mais dia, menos dia, algo aconteceria? Eu estava com minha família na mesma arquibancada, a poucos metros de distância (no jogo contra o Flamengo em 2015) quando nosso alquebrado Bento Freitas acusou pela última vez o golpe daquele povo ensandecido pulando em suas costas. Por sorte Bento, lá de cima, cuidou para que ninguém se machucasse. Foi um susto, mas daqueles que precisam acontecer para que a vida mude o rumo.

É certo que o Thiago Perceu e outros grandes xavantes envolvidos nesse projeto tiveram a mesma crença de todos, presentes ou não naquele dia, de que fomos abençoados com o não acontecer de uma tragédia e que não se adiasse por mais nenhum dia a busca de construir um novo estádio compatível com nossa grandeza. Diferentemente de muitos que há muito falam, criticam, cobram, mas que por anos nada fizeram, Perceu e sua equipe saíram em busca de resolver o problema. Se não cabemos em nós pela alegria desse momento, imaginem eles.

Agora é interessante e triste ver como a natureza humana se manifesta em momentos como esses. O que é para ser orgulho e felicidade comum parece ferir o ego de alguns que, mesmo sabendo que essa necessidade se avizinharia, não tiveram a preocupação de arregaçar as mangas e fazer tornar possível aquilo que parecia não ser. Eles tem seus méritos e que não tem por que se sentirem excluídos desse processo. São Xavantes e, mesmo não estando à frente daquilo que o esforço de uns está alcançando, o sucesso será incorporado por todos nós como se repetíssemos aquele mutirão dos anos setenta quando cada um ajudava como podia e ninguém se chateava se o outro podia mais.

Quem sabe se essa vontade de estar no lugar onde estão Perceu e a turma envolvida nessa grande e sonhada nova casa, não tome o peito dessas pessoas e os faça ir atrás de novas obras e atitudes que continuem nos levando a sermos o que queremos ser. Tem aí um Centro de Treinamento para acontecer, o resgate das categorias de base e uma série de outras coisas em que precisamos evoluir e que, por certo, precisarão de pessoas abnegadas e tão apaixonadas pelo no querido Grêmio Esportivo Brasil como as que temos agora.

Esse é, mais do que um momento de regozijo e felicidade, o momento de refletirmos e deixarmos orgulhos pessoais de lado.