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O bônus e o ônus

Por Marcelo Barboza

A torcida Xavante sempre sonhou com um calendário como esse de 2019. Campeonato Gaúcho, sendo o atual vice-campeão, Copa do Brasil jogando por um empate fora de casa e Campeonato Brasileiro da Série B. Há 10 anos atrás isso parecia surreal.

Porém, essa ascensão vem junto com o crescimento e planejamento do clube. O Brasil peca muito em planejamento e organização, e, obviamente, também sofre por ser um clube do interior do Rio Grande do Sul. Dessa forma o Brasil começou 2019 sabendo de todas as dificuldades que enfrentaria, dentro e fora do campo.

Com a reapresentação dos jogadores ocorrendo somente no dia 27 de dezembro, a pré-temporada do Brasil foi muito curta, assim como todos os times das Série A e B do Brasileiro. É o bônus e o ônus. O elenco teve apenas nove permanências em relação ao ano passado e um novo grupo foi formado. Rogério Zimmermann saiu e Paulo Roberto Santos chegou. Time novo, comissão técnica nova. Os testes antes do Gauchão foram poucos, apenas um jogo-treino contra o Sindicato e um treino contra um combinado de Rio Grande. Dias antes da estreia no Gauchão, vários temporais ainda atrapalharam os treinos.

O Gauchão já vai para a terceira rodada e o Brasil somou apenas 1 ponto. Na estreia, uma sovada do Caxias no Bento Freitas, 3 a 0 para eles. No segundo jogo, na noite de ontem em Santa Cruz do Sul, contra o Avenida, um empate em 1 a 1 com o gol de empate marcado por Branquinho no final da partida.

A torcida do Brasil já se mostra muito apreensiva com esse início de Gauchão. As contratações agradaram boa parte da torcida e a expectativa era de um melhor início de campeonato, mesmo sabendo do pouco tempo de preparação. Mas a desconfiança é enorme.

O time evoluiu do primeiro pro segundo jogo, é evidente. Mas ainda apresentamos muito pouco coletivamente. Nas poucas jogadas em que trocamos passes curtos, perto da área do Avenida, o jogo fluiu. Douglas Baggio é a principal válvula de escape do Brasil, ainda mais sem Diogo Oliveira no meio de campo. Mas jogando aberto pela esquerda, e com pouca aproximação de outros jogadores, ele acaba participando pouco do jogo. Quando arrancamos para um contra ataque, falta aproximação. Muitos erros de passes e pouca velocidade. Os laterais erraram demais contra o Caxias, já contra o Avenida melhoraram. Nos falta é criação. Velicka não tem a mesma movimentação do Diogo, apesar de ter um bom passe. Mas falta velocidade para ele. E isso temos de sobra com Branquinho e Fernandinho, dupla que fez a jogada do gol de empate ontem. No comando do ataque ainda sofremos de um matador. Luiz Eduardo não consegue se firmar e Michel precisa receber muitas bolas para poder colocar uma na rede. E nesses dois jogos, a bola chegou muito pouco para os centroavantes.

O treinador Paulo Roberto vai ter muito trabalho para que esse grupo evolua rapidamente. Precisamos apresentar um bom jogo já contra o Novo Hamburgo no sábado. Não temos tempo para testes. O elenco é qualificado, falta é entrosamento e uma equipe mais homogênea. O tempo é curto e a cobrança da torcida será enorme. Ficamos mal acostumados, no bem da verdade.

O capitão Leandro Leite falou ontem em entrevista que nesses anos em que ele está no Brasil, nunca tivemos um elenco tão qualificado quanto o desse ano. Falta é tempo para entrosar o time, disse o capitão. O problema é esse “tempo”. O calendário que sempre sonhamos não nos dá esse tempo que precisamos. Vamos ter que fazer algo de diferente. Ta na tua mão, professsor.

Entrevistas – SER Caxias 0x0 G.E.Brasil

Jogando no estádio Centenário, o Brasil empatou com o Caxias na noite dessa sexta-feira em 0 a 0. Com o empate o Brasil assumiu a liderança do campeonato com 17 pontos, um ponto à frente do Internacional. A próxima partida do Brasil será contra o Novo Hamburgo na próxima sexta-feira, também fora de casa.

Ouça as entrevistas após a partida, capturadas da Rádio Pelotense AM.

100% merecido

Por Marcelo Barboza

O Brasil entrou em campo contra o Veranópolis em busca da manutenção dos 100% de aproveitamento no Gauchão 2018 e de olho na liderança do campeonato. O time da serra, caso vencesse a partida, passaria o Brasil. Treinando há bem mais tempo que o Brasil, já era sabido que o VEC seria um duro adversário.

No início da partida foi o VEC quem tomou as ações. Nos primeiros minutos de jogo o time da serra chegou três vezes com perigo, fazendo Marcelo Pitol trabalhar. O primeiro chute na direção do gol feito pelo Brasil foi aos 20 minutos de jogo, com Toty, em um chute fraco e para fora. O Brasil insistia nas bolas longas e errava muitos passes. Alisson Farias era um dos poucos que tentava jogadas individuais e arriscava algo.

Na segunda etapa o time voltou diferente. Com mais paciência, rodando a bola, o Brasil foi tomando conta da partida e o VEC fechadinho atrás. Itaqui bateu falta com perigo, Artur arriscou de longe e o goleiro quase aceitou e Toty tentou um gol de bicicleta. Isso tudo em 10 minutos de segundo tempo. Só dava Brasil. E o gol veio aos 23 minutos em cobrança de escanteio. Itaqui cobrou o tiro de canto no primeiro pau e Luiz Eduardo se antecipou ao goleiro e colocou de cabeça para o fundo das redes. Foi o terceiro gol de Luiz Eduardo no Gauchão. Itaqui ainda bateu outra falta e quase marcou um golaço, a bola passou raspando a gaveta.

O garoto Chrigor, fruto da base Xavante, entrou no final do jogo no lugar de Toty. Chrigor teve uma chance de gol onde chutou para fora da entrada da área e depois rolou a bola para Calyson marcar, mas o meia errou a passada e não alcançou a bola. Mas é bom demais ver a base do clube dando certo e o garoto entrando com essa vontade toda. Tem tudo pra dar certo, o moleque joga demais.

O VEC tentou esboçar uma pressão mas o Brasil soube segurar a terceira vitória consecutiva, fato que não acontecia desde 1972 em Gauchões. Com a vitória o Brasil chegou aos 9 pontos e está na segunda colocação, com o mesmo número de pontos que o Caxias mas com saldo de gols menor. O Brasil volta à campo na próxima segunda-feira, às 20 horas, contra o São Luiz lá em Ijuí. Jogo que será transmitido pelo canal Premiere.

O momento é de euforia mas tem que ser de muita tranquilidade. O time parece estar encaixando e temos boas peças para entrar durante a partida. Ano passado terminamos o campeonato com 10 pontos, naquela noite apavorante em Passo Fundo. Agora já temos 9 pontos em 3 jogos. Clemer tem muita coisa para acerta no time mas acredito que estamos no caminho certo.

ÁUDIOS

*capturados da Rádio Difusora de Arroio Grande e Rádio Pelotense

VÍDEOS

Matéria do programa Bom dia Rio Grande – RBS TV

40 anos da invasão Xavante em Estrela

Por Marcelo Barboza

Tudo começou com o apito final do juiz Agomar, encerrando um Bra-Pel. Em verdade, o “clássico” empatado teve o sabor de derrota, pois, justamente aos 48 minutos do segundo tempo, após uma furada espetacular do zagueiro Tino, O Flávio Minuano não desperdiçou e empatou um jogo considerado ganho pelos rubro-negros.

Neste momento, o desespero tomou conta dos Xavantes, uma vez que o resultado da partida obrigava o G.E.Brasil a correr atrás do prejuízo, ou seja, dos pontos necessários para se classificar na final do Gauchão 1977.

Agora, era preciso viajar à cidade de Estrela para jogar contra o Estrela Futebol Clube, e ganhar. Porém, mesmo ganhando, os rubro-negros teriam que torcer por uma vitória do S.C.Internacional sobre o E.C. Internacional de Santa Maria, jogo que se realizaria no estádio Beira-Rio.

A prioridade, dentre as prioridades, era vencer o jogo contra o Estrela F.C. Por isso, ainda na arquibancada do E.C.Pelotas, abalados pela imensa frustração do empate, alguns expoentes Xavantes, liderados pelo presidente Claudio de Andrea, já arquitetavam levar uma grande torcida ao estádio Walter Jobim, em Estrela, para o jogo que deveria se realizar em meio da próxima semana.

Logo, era preciso encontrar, rapidamente, um forte estímulo, capaz de motivar o torcedor a deslocar-se até o Vale do Taquari em pleno meio de semana. Imaginaram, então, que 10 ônibus seriam suficientes para transportar o público interessado e disponível e, de quebra, o GEB arcaria com 50% do custo da passagem. E, assim pensando, logo um grupo deslocou-se à garagem do Expresso Princesa do Sul para os devidos acertos.

Cabe lembrar que, na época, as excursões de torcedores eram organizadas pelo próprio clube, sem a interferência de atravessadores.

Ainda na noite de domingo, todas as emissoras de rádio de Pelotas anunciavam a decisão tomada pela diretoria rubro-negra e, surpreendentemente, na tarde da segunda-feira todos os ônibus já estavam lotados.

Frente à resposta imediata e inesperada dos torcedores, Claudio de Andrea entrou em contato com o presidente do Estrela F.C., que também era o prefeito da cidade, propondo-lhe transferir a partida para o próximo domingo. Tentando melhor convencê-lo, foi-lhe assegurado que, no mínimo, 30 ônibus chegariam de Pelotas para o embate.

O regime financeiro do Campeonato era de renda dividida, o que reforçou a aprovação imediata do presidente, pois, naquele momento, o time do Estrela F.C. só cumpria o calendário.

Os dias corriam e a demanda por passagens crescia assustadoramente. A dificuldade para conseguir ônibus em quantidade suficiente era grande e, por isso, foi preciso recorrer às cidades vizinhas.

A partir dos 30 ônibus, faltou “cacife” à diretoria para bancar os 50% da passagem que, por isso, passou a ter o preço integral. Em alguns casos, houve pesados ágios, o que tornou possível, em poucos ônibus, recuperar a generosa oferta do clube em pagar metade do valor real.

Por fim, esgotaram-se os ônibus da região, depois contabilizados em 84 coletivos nos arredores do estádio Walter Jobim, todos procedentes da cidade de Pelotas.

Uma excursão como esta somente pode ser comparada às grandes romarias religiosas e, graças a este extraordinário acontecimento, a torcida Xavante entrou, definitivamente, na ´mídia gaúcha e nacional. Além disso, tal como nos belos contos, vibrou com o final feliz, pois de Estrela “caiu” uma vitória com nuances de dramaticidade.

Somados os passageiros dos ônibus com os de carros particulares, o número de torcedores ultrapassou a cinco mil pessoas. O pequeno estádio Walter Jobim foi tomado de assalto e a irreverente manifestação da torcida rubro-negra coloriu e agitou o domingo daquela pacata região.

Na entrada do estádio, o político-presidente do Estrela F.C., Gabriel Malmann, dirigiu-se ao presidente do GEB, Claudio de Andrea, e disse-lhe:

– Que inveja presidente! Como eu gostaria de estar em seu lugar! É um sonho e ambição de qualquer dirigente ter o apoio de uma torcida assim.

Mas, ao final, já não pensava da mesma forma. Descontente com a derrota, denunciou que o seu precário estádio havia sido alvo de vandalismo e, numa atitude arbitrária e complacente com a Federação Gaúcha de Futebol, “surrupiou” a parte da renda que caberia ao G.E.Brasil, ou seja, Cr$22.860,00 (vinte e dois mil oitocentos e sessenta cruzeiros).

Na ocasião, a diretoria do GEB protestou e entrou com uma representação no Tribunal Desportivo. porém, somente um ano após reaver o que, arbitrariamente, lhe tinham usurpado.

Texto retirado do livro Identidade Xavante.

O gol de pênalti marcado por Volni que deu a vitória ao Brasil por 1 a 0. Foto: Livro Identidade Xavante

ESTRELA FUTEBOL CLUBE 0 X 1 GRÊMIO ESPORTIVO BRASIL

Dia: 15.05.1977 (Domingo)
Horário: 16h
Estádio: Walter Jobim
Cidade: Estrela (RS)
Arbitragem: José Luís Barreto, auxiliado por Erick Fucks e Ricardo Radamés Piva.
Gols: Volni (pênalti) no 2º Tempo.
Público: 5.000
Renda: Cr$ 69.200,00
Cartões Vermelhos: Juarez e Zeno (Estrela), Raul Santos e Euclides (BRASIL).
ESTRELA F.C.: Pompéia; Rugard, Leocir, Quéti e Ademir; Dandá, Juarez e Ênio Costa; Norberto (Zeno), Palito e Passos. Téc.: Rafael Orighela.
G.E.BRASIL: Sérgio; Volni, Tino, Raul Santos e Euclides; Ronaldo (Alceu), Sílvio Soares e Jaci; Mickey, Ênio Fontana e Zé Luíz (Tarso). Téc.: Osvaldo Barbosa.

IMAGENS DA INVASÃO DA TORCIDA XAVANTE E LANCES DA PARTIDA

O tempo passa, o tempo voa

Por Marcelo Barboza

Já se passaram 19 dias desde o final do campeonato gaúcho para nós, naquele vergonhoso jogo contra o Passo Fundo, e até agora apenas um reforço foi anunciado pelo clube, o volante Itaqui. Bom nome, por sinal. Mas restam apenas 25 dias para a estreia no Campeonato Brasileiro da Série B. Ignoremos nesse meio do caminho o jogo com o Fluminense pela Copa da Primeira Liga, pois essa partida pouco influenciará em nosso planejamento.

Posso estar crítico demais em relação as contratações, mas não estamos um tanto quanto atrasados?

Com contrato fimado para a Série possuímos apenas 17 jogadores, o restante tem contrato encerrando em breve. Estamos esperando para ver quantos jogadores conseguiremos trazer para sabermos quantos dispensar?

Dizem por aí que um pacote de jogadores podem vir do Caxias e Novo Hamburgo, clubes que estão disputando as semifinais do Gauchão. Se é verdade, não sabemos. Mas é bem provável. Agora, viriam desses times jogadores realmente diferenciados à ponto de fazer o time jogar o que não jogou durante o Gauchão? Tenho lá as minhas dúvidas. E dos outros estaduais, não tem ninguém que possamos aproveitar? A Seleção do Gauchão seria o suficiente para fazermos uma boa campanha na Série B? Não temos investimento para buscarmos outras soluções? Acho que temos.

São muitas as dúvidas na cabeça dos torcedores Xavantes, e não é a toa.

O centroavante Gilmar, do Caxias, é um dos jogadores com quem o Brasil vem negociando. Esse mesmo jogador foi oferecido no final do ano pro Brasil e a resposta foi que “jogador que estava na Tailândia não interessava”. Então o Brasil foi lá e trouxe o Rennan Oliveira, da segunda divisão da Tailândia. Agora Gilmar deve pedir um salário bem maior do que seria pago lá no final do ano passado, pois o time do Caxias vem fazendo uma boa campanha no Gauchão e teoricamente o jogador está mais valorizado do que quando estava na Tailândia. Cadê a coerência e a convicção tão falada?

Porque não passamos o ano fazendo essas análises de mercado e quando os campeonatos chegam ao final não vamos lá e oferecemos uma proposta boa para esses caras? Porque agora Wagner, Pitol, Gilmar, Preto e outros servem e antes não? Porque não chegamos nesses caras e oferecemos contrato de um ano, com Série B pra jogar, com um salário melhor que os times do interior do RS? Porque isso não acontece? Será que o motivo é porque não temos um dirigente voltado para o futebol? Que é o nosso treinador que abraça tudo em relação à contratações, inclusive telefonando diretamente para os jogadores, quando era a direção do clube era que deveria fazer isso para que o treinador se preocupasse apenas em treinar o time? Depois a culpa é da curta pré-temporada, da perda de jogadores, do mercado inflacionado, e nunca do erro de planejamento e falta de firmeza nas convicções.

É muita interrogação e pouca ação.

Esperamos que em meio a esses nomes cogitados pela imprensa, tenhamos realmente algumas surpresas. Que a direção do clube mostre que estamos cagados a toa e que tenhamos respostas para as dúvidas acima citadas.

Oremos.