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40 anos da invasão Xavante em Estrela

Por Marcelo Barboza

Tudo começou com o apito final do juiz Agomar, encerrando um Bra-Pel. Em verdade, o “clássico” empatado teve o sabor de derrota, pois, justamente aos 48 minutos do segundo tempo, após uma furada espetacular do zagueiro Tino, O Flávio Minuano não desperdiçou e empatou um jogo considerado ganho pelos rubro-negros.

Neste momento, o desespero tomou conta dos Xavantes, uma vez que o resultado da partida obrigava o G.E.Brasil a correr atrás do prejuízo, ou seja, dos pontos necessários para se classificar na final do Gauchão 1977.

Agora, era preciso viajar à cidade de Estrela para jogar contra o Estrela Futebol Clube, e ganhar. Porém, mesmo ganhando, os rubro-negros teriam que torcer por uma vitória do S.C.Internacional sobre o E.C. Internacional de Santa Maria, jogo que se realizaria no estádio Beira-Rio.

A prioridade, dentre as prioridades, era vencer o jogo contra o Estrela F.C. Por isso, ainda na arquibancada do E.C.Pelotas, abalados pela imensa frustração do empate, alguns expoentes Xavantes, liderados pelo presidente Claudio de Andrea, já arquitetavam levar uma grande torcida ao estádio Walter Jobim, em Estrela, para o jogo que deveria se realizar em meio da próxima semana.

Logo, era preciso encontrar, rapidamente, um forte estímulo, capaz de motivar o torcedor a deslocar-se até o Vale do Taquari em pleno meio de semana. Imaginaram, então, que 10 ônibus seriam suficientes para transportar o público interessado e disponível e, de quebra, o GEB arcaria com 50% do custo da passagem. E, assim pensando, logo um grupo deslocou-se à garagem do Expresso Princesa do Sul para os devidos acertos.

Cabe lembrar que, na época, as excursões de torcedores eram organizadas pelo próprio clube, sem a interferência de atravessadores.

Ainda na noite de domingo, todas as emissoras de rádio de Pelotas anunciavam a decisão tomada pela diretoria rubro-negra e, surpreendentemente, na tarde da segunda-feira todos os ônibus já estavam lotados.

Frente à resposta imediata e inesperada dos torcedores, Claudio de Andrea entrou em contato com o presidente do Estrela F.C., que também era o prefeito da cidade, propondo-lhe transferir a partida para o próximo domingo. Tentando melhor convencê-lo, foi-lhe assegurado que, no mínimo, 30 ônibus chegariam de Pelotas para o embate.

O regime financeiro do Campeonato era de renda dividida, o que reforçou a aprovação imediata do presidente, pois, naquele momento, o time do Estrela F.C. só cumpria o calendário.

Os dias corriam e a demanda por passagens crescia assustadoramente. A dificuldade para conseguir ônibus em quantidade suficiente era grande e, por isso, foi preciso recorrer às cidades vizinhas.

A partir dos 30 ônibus, faltou “cacife” à diretoria para bancar os 50% da passagem que, por isso, passou a ter o preço integral. Em alguns casos, houve pesados ágios, o que tornou possível, em poucos ônibus, recuperar a generosa oferta do clube em pagar metade do valor real.

Por fim, esgotaram-se os ônibus da região, depois contabilizados em 84 coletivos nos arredores do estádio Walter Jobim, todos procedentes da cidade de Pelotas.

Uma excursão como esta somente pode ser comparada às grandes romarias religiosas e, graças a este extraordinário acontecimento, a torcida Xavante entrou, definitivamente, na ´mídia gaúcha e nacional. Além disso, tal como nos belos contos, vibrou com o final feliz, pois de Estrela “caiu” uma vitória com nuances de dramaticidade.

Somados os passageiros dos ônibus com os de carros particulares, o número de torcedores ultrapassou a cinco mil pessoas. O pequeno estádio Walter Jobim foi tomado de assalto e a irreverente manifestação da torcida rubro-negra coloriu e agitou o domingo daquela pacata região.

Na entrada do estádio, o político-presidente do Estrela F.C., Gabriel Malmann, dirigiu-se ao presidente do GEB, Claudio de Andrea, e disse-lhe:

– Que inveja presidente! Como eu gostaria de estar em seu lugar! É um sonho e ambição de qualquer dirigente ter o apoio de uma torcida assim.

Mas, ao final, já não pensava da mesma forma. Descontente com a derrota, denunciou que o seu precário estádio havia sido alvo de vandalismo e, numa atitude arbitrária e complacente com a Federação Gaúcha de Futebol, “surrupiou” a parte da renda que caberia ao G.E.Brasil, ou seja, Cr$22.860,00 (vinte e dois mil oitocentos e sessenta cruzeiros).

Na ocasião, a diretoria do GEB protestou e entrou com uma representação no Tribunal Desportivo. porém, somente um ano após reaver o que, arbitrariamente, lhe tinham usurpado.

Texto retirado do livro Identidade Xavante.

O gol de pênalti marcado por Volni que deu a vitória ao Brasil por 1 a 0. Foto: Livro Identidade Xavante

ESTRELA FUTEBOL CLUBE 0 X 1 GRÊMIO ESPORTIVO BRASIL

Dia: 15.05.1977 (Domingo)
Horário: 16h
Estádio: Walter Jobim
Cidade: Estrela (RS)
Arbitragem: José Luís Barreto, auxiliado por Erick Fucks e Ricardo Radamés Piva.
Gols: Volni (pênalti) no 2º Tempo.
Público: 5.000
Renda: Cr$ 69.200,00
Cartões Vermelhos: Juarez e Zeno (Estrela), Raul Santos e Euclides (BRASIL).
ESTRELA F.C.: Pompéia; Rugard, Leocir, Quéti e Ademir; Dandá, Juarez e Ênio Costa; Norberto (Zeno), Palito e Passos. Téc.: Rafael Orighela.
G.E.BRASIL: Sérgio; Volni, Tino, Raul Santos e Euclides; Ronaldo (Alceu), Sílvio Soares e Jaci; Mickey, Ênio Fontana e Zé Luíz (Tarso). Téc.: Osvaldo Barbosa.

IMAGENS DA INVASÃO DA TORCIDA XAVANTE E LANCES DA PARTIDA