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Goiás viu nascer o budismo xavante | Fabrício Cardoso

Talvez como compensação pelas lonjuras do oceano, Goiás é um Estado cortado por rios largos e caudalosos. Quem já despertou numa manhã de geada para encarar uma aula de geografia ou história, por certo já ouviu falar no Tocantins ou no Araguaia. Itumbiara fica às margens do menos famoso deles, o Paranaíba. Mas não é por falta de formosura que a existência deste veio d’água é sonegada a nós, pelotenses. O leito cristalino, de tom algo azulado, corre calmo e exuberante, roçando também as areias das Minas Gerais, lá na outra margem. Foi com o olhar perdido no lento avanço do Paranaíba rumo a um mar distante que encontrei um ensinamento para sobreviver, com um mínimo de compostura mental, a este 2016 que o Xavante nos enfiou.

Quando pego a estrada atrás do G.E.Brasil, sinto-me a caminho de uma batalha letal. Como resposta a anos de campeonatos curtos e letais, meu corpo reage como se um predador estivesse à espreita. Sinto palpitações, suadouros, meu pensamento não consegue sair da órbita do jogo. Minha mina, a Mônica, áureo-cerúlea não praticante (com o perdão do pleonasmo), insiste em me acompanhar nestas andanças. Faz isto pelo amor que nos faz querer estar juntos, todo dia, há 16 anos. Mas, num dado momento da viagem, ela sempre adverte nossos meninos.

– Seu pai está aqui só de corpo presente. Não adianta falar com ele.

Na sexta-feira, quando o sol se punha em Itumbiara, de fato me perdi em pensamentos. Mas meu silêncio estava mais ligado a serenidades do que a nervosismos. Ao chutar a porta e se meter num campeonato com 38 jogos, de maio a novembro, nosso clube nos deu a chance de desacelerar o espírito. A fronteira entre a vida e a morte está larga como o Paranaíba, o Tocantins, o Araguaia, a Lagoa dos Patos. A derrota continuará a ser um tropeço, mas na calçada – não mais à beira de um precipício.

Cheguei assim, numa vibração de monge tibetano, ao Juscelino Kubitscheck, cancha que a prefeitura construiu para o clube local que, de tão abusado, pegou até o nome da cidade para ele. Não sei por que, talvez vocês possam me ajudar a explicar, não simpatizo com clubes que roubam o nome da cidade. Bem, lá, a Polícia Militar nos escoltou com tanto desvelo, os funcionários do estádio nos distribuíram ingressos de graça para as cadeiras, as pessoas estavam tão maravilhadas com a presença uma gauchada insana, que o clima ficou adocicado demais. Levei uns 15 minutos até soltar o primeiro palavrão.

Entre um impropério e outro nas cadeiras vermelhas do JK, saquei o quanto trabalhoso será meu ministério para acalmar uma alma xavante. A começar pelos amigos de infância do capitão Leandro Leite, que vieram de Piracanjuba, a uns 150 quilômetros de Itumbiara. Um deles gritou tanto no gol do Felipe Garcia que, no intervalo, andava pelas arquibancadas implorando por um dorflex, temendo que a cabeça explodisse.
– Calma, tchê! – lhe disse, enquanto alcançava o comprimido redentor.

Minutos antes, quando o Nena se foi roçando as coxas para cobrar o pênalti, recuando a bola para o Renan, nosso espaço no estádio se tornou, subitamente, nos metros quadrados com maior risco de eventos cardíacos em Goiás. Vendo aquele sofrimento coletivo que era possível tocar, resolvi berrar, mentindo a mim mesmo, o que, segundo Renato Russo, é a pior mentira.
– Não vai fazer falta! Não vai fazer falta!

A provação maior para a minha conversão ao budismo xavante, porém, mexeu com a minha paternidade. O Goiás empatou o jogo. Meu guri, o Inácio, me olhou nos olhos, implorando para que eu dissesse algo confortável. Só me ocorreu ser sincero:

– Porra, se perdermos, foi para o Goiás, cacete!

O moleque começou a gemer, depois a balir, depois a ganir, depois a uivar. Emitindo sons, conjugou todos os verbos que nos aproximam dos animais. Ao ouvir o silvo do apito do juiz, indicando o final da partida, me abraçou lívido. Pesava com uma folha de almaço, exaurido ao extremo. O guri vai aprender a sofrer menos. Temos 34 jogos pela frente.

Na manhã seguinte, mergulhei os pés nas águas do Paranaíba, em agradecimento pela lição aprendida. Mal entramos na BR-153 e minha mina colocou o pé no painel do carro, o que para mim consiste num das mais sublimes vistas do planeta. Serenei enquanto o asfalto sumia no retrovisor.

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Estou absolutamente convicto de que não ficarei catatônico até o jogo contra o… Paysandu.

> Link da comemoração do Inácio: http://www.youtube.com/watch?v=ovHI7Di2Ljg

Brasil faz bom jogo e empata com o Goiás

O Brasil mais uma vez visitou o estado de Goiás, pela segunda vez em uma semana, mas dessa vez para enfrentar o Goiás. No estádio Juscelino Kubitschek, em Ituiutaba, o Brasil empatou em 1 a 1 com o Goiás depois de abrir o placar na primeira etapa com Felipe Garcia.

O primeiro tempo foi dominado pelo Brasil. Desde o início, com marcação adiantada, o Xavante tomou conta do jogo. Logo aos 11 minutos Wender passou para Felipe Garcia na entrada da área. O meia Xavante tentou dominar mas a bola escapou do seu domínio. Mas sem querer ele acabou dando uma meia lua no zagueiro do Goiás e tocou de bico na saída do goleiro Renan. Foi o quarto gol de Felipe na Série B. Logo em seguida, aos 14 minutos, o Goiás saiu jogando errado e Nena deu bela assistência para Nathan sair na cara de Renan. O atacante Xavante chutou em cima de Renan e perdeu uma grande chance de ampliar o placar. Mas chance mesmo teve Nena. Diogo Oliveira foi derrubado dentro da área e o árbitro da partida marcou pênalti, aos 16 minutos. Nena foi para a cobrança e chutou rasteiro, no canto esquerdo do goleiro Renan. O chute não saiu forte e não foi bem no canto, facilitando a defesa do goleiro goiano. Ainda na primeira etapa o Brasil chegou mais duas vezes com Diogo Oliveira, mas os chutes foram para fora. O Goiás tentava chutes de longe mas sem sucesso. O lance de maior risco para o time goiano foi com Cléo, após cobrança de escanteio o centroavante tentou marcar de peito mas Eduardo Martini fez grande defesa.

Na segunda etapa o jogo mudou. O Brasil perdeu a sua força ofensiva e o Goiás foi para cima. O gol de empate veio logo aos 9 minutos com Rafael Lucas. O atacante foi lançado das costas de Washington e bateu forte, no meio do gol, sem chances para Eduardo Martini. Já sem Nena em campo, que saiu pra entrada de Marcos Paraná, o Brasil pouco criou no ataque. O Goiás tentou o gol da virada mas sem organização, na base do abafa. A defesa Xavante seguiu firme e segurou o empate em 1 a 1.

Ficou aquela impressão que dava para ter vencido. O Brasil podia ter matado o jogo na primeira etapa, mas não fez. Acontece. O bom é que o time foi muito bem jogando com centroavante novamente. Nena fez bem o papel de pivô em várias jogadas, deu assistência perfeita para Nathan, mas quando precisou guardar o seu, falhou. Uma pena. Mas é ponto somado. Em hipótese alguma poderemos ficar tristes quando o empate foi com o Goiás e fora de casa.

Agora o Brasil volta para Pelotas para dois jogos. Enfrenta o Paysandu na próxima terça-feira, às 19:15h, e o Luverdense na sexta, às 20:30h. Temos que buscar essas duas vitórias em casa. Serão importantes para dar um fôlego.

Chegamos na quarta rodada e a campanha é acima da esperada. Não há como negar. Os jogos em casa e o primeiro tempo de hoje nos dão boas perspectivas para o futuro. Precisamos apenas reforçar esse elenco. Do meio para frente temos poucas opções e como as viagens serão constantes, o desgaste será certo.

ÁUDIOS

*capturados da Rádio Xavante e Rádio Pelotense AM

VÍDEO

Melhores Momentos – Imagens PFC