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O chute que feriu não garantiu a vitória, apenas uma fuga ao vestiário

Por Pedro Henrique Krüger

Nesta quarta-feira à noite (15) o Brasil recebe o Grêmio no estádio Bento Freitas. Há 34 anos, uma terça-feira, esse mesmo duelo ocorreu na Baixada. À época, o time gremista contava com Renato Gaúcho, que é o atual técnico do clube porto-alegrense. A partida terminou empatada em 1 a 1. O gol rubro-negro foi marcado por Rogério, ponteiro esquerdo Xavante. O gol de empate gremista saiu dos pés de Nei.

Porém, não foram os gols ou a torcida Xavante que marcaram para sempre esse jogo na memória dos torcedores.

Na segunda etapa daquela partida, Renato Gaúcho agrediu covardemente o gandula rubro-negro, Miguel. A agressão não passou em branco e o estádio tornou-se ainda mais hostil para os gremistas. Os jogadores do Brasil foram para cima de Renato logo após a agressão, mas também no decorrer da partida – veja o vídeo.

De acordo com o torcedor rubro-negro e gandula naquela noite, Luis Titika, a história foi mais ou menos a seguinte:

“Nós estávamos atrás da goleira, eu e o Miguel. Eu acho que o Brasil estava ganhando de 1 a 0 e eles precisavam, no mínimo, empatar com a gente. E aí sobrou uma bola para escanteio e ela correu para a placa [publicitária], e ficou ali, bem no início da placa.

Nosso trabalho era dividido, uma bola para cada um buscar. Naquele lance era a minha vez de ir. Mas às vezes a gente ficava sentado atrás da goleira e eu estava mais para o outro lado. E como o Renato saiu em seguida para pegar a bola, o Miguel, que estava mais perto, disse “não, não, deixa que eu pego”. E saiu correndo, abriu a placa e chutou a bola para o final dela. Nisso o Renato passou correndo por mim e viu ele fazer isso. Quando o Miguel foi pegar a bola no final, o Renato arredou a placa e deu um chute nele, que caiu já com a perna quebrada.

Depois eles [jogadores do Grêmio] tiveram que correr para o vestiário e o jogo ficou por um tempo parado.

O que ele fez eu iria fazer. A bola estava no início da placa e nós estávamos fazendo “cera”. Eu iria também chutar a bola para o final, como ele fez. Provavelmente seria eu a ter a perna quebrada.”

Além de colegas no gramado, Miguel e Luis também foram colegas de aula na Escola Salis Goulart. Segundo informações coletadas pelo BlogXavante.com, o Miguel nunca recuperou totalmente a perna após a lesão. Inclusive tornou-se, anos mais tarde, morador de rua em Pelotas – e já faleceu.

O Miguel não vai estar no Bento Freitas na noite de quarta-feira. Outros tantos, pelos mais diversos motivos (ingressos elitizados, horário ruim definido pela televisão, distância e talvez até falta de capacidade no estádio), também não vão ultrapassar os portões da Baixada.

O que aumenta ainda mais a responsabilidade da torcida Xavante que vai conseguir estar no estádio. É, mais uma vez, a nossa hora. Que a vitória venha no grito, na raça e no legado deixado por tantos rubro-negros, como o Miguel, o Marcola e o eterno Claudio Milar.

Aliás, Renato Gaúcho voltaria a jogar no Bento Freitas. Foi em 1991. E perdeu por 1 a 0. Gol do Renílson.

É hora de repetirmos o resultado. É hora de “chutá-los” da maneira correta. De forma que os faça se arrependerem de terem deixado, em geral pela primeira vez no ano, o conforto dos seus respectivos sofás!

GOLS DA PARTIDA E O LANCE DA AGRESSÃO DE RENATO GAÚCHO

Mesmo quando termina, o futebol é vida | Pedro H. Krüger

É um esporte que transpira paixão, constrói memórias, capaz de entristecer e alegrar, mas sempre produz sentimentos e sensações ligados à existência. O futebol é vida.

Duas traves num gramado. Arquibancadas. Uma bola. Gente por todos os lados. Esperança. O ludopédio é a vida experimentada em bando.

Torcida. Charanga. Antigamente, a cerveja. Na Baixada, a coisa ia mais além: cachaça. Há o grito de gol. O sofrimento. Futebol é coração.

É o coração que bombeia o sangue para transportar oxigênio. É o que nos mantém. No Grêmio Esportivo Brasil, os batimentos cardíacos confundem-se com o som emitido pelos tambores treme terra, e os nossos gritos somam-se aos instrumentos de sopro. No Xavante, eternamente o clube dos Negrinhos da Estação, do Bento Freitas, do canal do Pepino, o coração tem um papel ainda mais forte.

É ele o responsável por manter em movimento o nosso sangue e a nossa raça. O nosso hino, aliás, não existe apenas por existir. É uma canção que representa toda uma gente que vibra e chora, no Bento Freitas ou fora dele, pois o Brasil não joga sozinho.

Não é à toa que o nosso hino menciona o sangue, a raça, o vermelho e o negro, e a torcida do nosso campeão. Afinal, repito, futebol é a vida experimentada em coletivo.

Futebol é vida, cuja ganha tons de paixão com a camisa rubro-negra.

Às vezes, a vida não define local e data para terminar. Ou melhor, não sabemos quando ela vai recomeçar em um novo lugar.

Na noite de domingo, logo após o Brasil reatar os laços com a vitória, a nossa gente viu um dos nossos cair ao chão. Muitos o socorreram, pois torcedor Xavante não torce sozinho. No dia seguinte, 24 horas após completar 25 anos de idade, outro Negrinho da Estação nos deixou.

Não desejo flertar com a morte, mas a existência não cessa aqui.

Antes, porém, um dos nossos deixou um legado, pois relembrou que o futebol não é apenas um jogo. É a vida compartilhada com os seus, retorno a escrever. Por isso, ele nos deixou a seguinte mensagem após a vitória: meu presente de aniversário. Valeu, Xavante!

Valeu, Mauricio Moraes Quevedo.

Valeu, Antônio Alberto Moscarelli.

Vocês são a razão da existência do Grêmio Esportivo Brasil. Vocês são o coração que bombeiam o sangue Xavante e esse retumbar apaixonado não termina nunca mais.

Meus sinceros sentimentos em nome do Blog Xavante às famílias de Mauricio e Antônio.