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Luiza, Xavante | Ivan H. Schuster

Assisti emocionado a entrevista da Luiza, a menina que foi mostrada na TV sendo carregada para a ambulância devido a uma crise asmática provocada pelas confusões na arquibancada, durante a apresentação Xavante frente ao Internacional de Porto Alegre, no último sábado.

A alegria em seus olhos ao ver o capitão Leandro Leite é reveladora. Luiza é Xavante. Com o passar do tempo vamos perdendo esta naturalidade e espontaneidade que as crianças possuem. Vamos envelhecendo e vamos ficando duros, rabugentos, com vergonha de mostrar as nossas alegrias e tristezas, nossos amores e dessabores, com se fosse feio ou pecado. Mas as crianças, felizmente, ainda possuem este dom de poderem ser sinceras em sua emoções. E a Luiza deixou evidente a sua alegria em ser Xavante. É isto aí, Luiza, é bom ser Xavante.

Se a imagem da doce Luiza comove, saber que o momento de sofrimento por ela vivido poderia ter sido evitado, se a BM fosse melhor preparada e houvessem menos imbecis no mundo, revolta. É impressionante que um evento que deveria ser de diversão e alegria, produza pancadaria, bombas de efeito moral – a propósito, moral de quem? – e gás de pimenta, fazendo vítimas inocentes, como a Luiza e tantos outros que estavam ali somente para apoiarem o GEB. Algo está errado. Muito errado. Não é possível que centenas, milhares paguem pelos atos de meia dúzia. Isto não é justiça. Não é, sequer, policiamento, nem ostensivo e muito menos preventivo, é selvageria. Perderam o controle e a razão.

É certo que o clube será punido, pois é isto que o MP, BM e TJD sabem fazer, punir. Punem com borrachada nas costas, gás de pimenta e bombas de fumaça. Violência e mais violência de forma indiscriminada. Depois virá a punição para o clube. Deixará o que já está ruim, muito pior. Como se estes métodos, algum dia na história da humanidade, tivessem resolvido algo. Se punição e violência resolvessem algo, todos seríamos católicos, porque não podiam ter caçado e punido mais do que fizeram durante o período da Inquisição. O que não falta na história são exemplos de tentativas de coerção pela violência e punição. Sabemos bem que não é com punição e muito menos com violência que se educa. Não é opinião, é fato. Insistir é burrice.

Será que só eu acho estranho ver policiamento ostensivo, com equipamento para conflito, em uma partida de futebol? Será que tudo isto é mesmo necessário ou atende a interesses de alguns? Por exemplo, nas novas arenas, com torcidas muito mais numerosas e com históricos nada honrosos, como as do Corinthians, Flamengo e Palmeiras, não se vê mais este tipo de policiamento dentro dos estádios(arenas), mesmo não havendo mais divisórias entre a arquibancada e o gramado. Por que aqui ainda se usa este expediente?

Não sou especialista em segurança. Na verdade, entendo nada sobre esse assunto. Apenas tenho a certeza, como cidadão, de que como está, está ruim. E se está ruim, está errado. E se está errado, precisa ser corrigido. Só que isto requer trabalho, inteligência, disposição e vontade política das pessoas responsáveis. Está bem, melhor esquecer. Vai continuar na base da borracha e da punição, mesmo.

Abs.


Ivan H. Schuster

Onda Xavante – Porto Alegre/RS