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Chegamos – Ivan H. Schuster

Meus amigos e companheiros, é bom ser Xavante. É um sofrimento prazeroso, um vício da alma. Este 14 de maio de 2016 foi um dia histórico. Acredito que não foi um dia qualquer para nenhum Torcedor Xavante. Foi um dia de apreensão, tensão e alívio. Sobre tudo um dia de dever cumprido.

Mesmo com a apresentação sendo mostrada na TV, não me contive e, junto com meu pai, me fui ao Bento Freitas. Saímos cedo no sábado, de forma a poder almoçar com alguns familiares, assistir ao espetáculo e voltar para Porto Alegre a tempo de ainda assistir aos gols na ESPN, Sportv, Fox Sports, …, antes de dormir. Luxo. Aliás, este negócio de aparecer em rede em TV nacional causa uma ciumeira danada.

Na muvuca pré-apresentação, uma espécie de preparação espiritual que acontece horas antes de cada apresentação, na quadra que antecede ao estádio, nos vários quiosques e barracas, envolvendo diversos grupos de Torcedores Xavantes, era fácil perceber uma certa apreensão no ar. Havia um suspense digno de Hitchcock. A pergunta e a resposta eram sempre as mesmas: E aí, como vai ser? Pois é, precisamos ganhar.

Depois de um Gauchão sem muita convicção, sem conseguir empolgar nem mesmo o mais fanático Torcedor, haviam muitas dúvidas em relação a como seria nossa estréia. Se não havia muita convicção, o que havia de sobra era orgulho. A apresentação que estava por começar marcaria, como marcou, a realização de um sonho há muito sonhado. Sim, havíamos conseguido. A vontade que eu tinha era de gritar alto “Chorem secadores”. E chegamos por nossas próprias pernas, sem vendermos a alma ao diabo, sem nos entregarmos para “empresários esportivos”, sem alugarmos o departamento de futebol e muito menos sem ufanismos e conquistas imaginárias. Só muito trabalho.

Cerva, churrasquinho, encontro com velhos e novos amigos, discussões, descontração, muita conversa e vamos para o templo. Casa cheia, charanga tocando, coração pulsando na batida dos treme-terras e muita tensão. Mesmo com o placar em vantagem logo no início, era fácil perceber que a Torcida não se soltava. Um certo receio de sujar as cuecas ao pular para gritar. E assim foi até o gol definitivo do Felipe Garcia, quando finalmente a festa rolou solta do Caldeirão da Baixada.

O GEB fez uma apresentação muito boa, com muita dedicação tática, comprometimento e uma estratégia bem executada. Pressão inicial, vantagem no placar, controle do meio de campo a partir da segunda metade do tempo e exploração das roubadas de bola em contra-ataques rápidos. Deu certo. A expulsão de um dos jogadores adversários ajudou muito.

Meus destaques ficam com o Felipe Garcia, pela entrega total, pelos dois gols feitos e, de quebra, causou a expulsão do jogador adversário. Além dele, o Diogo Oliveira, que novamente mostrou grande qualidade e visão de jogo, e o Cirilo, soberano. Meu conselho: sejam menos preconceituosos. Muito tenho ouvido sobre a idade dos nossos Guerreiros. Que a média é alta, que não têm pernas, etc. Na única vez que foi exigido, o Martini mostrou, de novo, reflexo que até para um guri seria digno de elogio. Wender, com mais de 40min do segundo tempo já acontecido, deu um pique de uns 70m, que eu fiquei cansado só de olhar. Velhos e cansados são os conceitos de vocês, corneteiros.

Terminado o show, só alegria. Alma leve, coração batendo como o de uma virgem apaixonada. Sabemos que nada, de fato, foi conquistado. Estamos longe até mesmo de conseguirmos definitivamente nos manter na Série B. Falta muita coisa, o caminho é longo. Mas, as dúvidas foram dissipadas. Sim, temos um time competitivo. Precisamos de reforços? Claro que sim. O plantel é pequeno para as necessidades de uma competição desta grandeza. Reforços já vieram e outros estão por vir. Já foi dito. O que certamente não precisamos fazer é trocar meio time, sair contratando uma dezena de atletas, endividar o clube e bagunçar o clima do vestiário.

Entendo que esta vitória nos dá um pouco de tranquilidade. Fizemos o dever de casa. Não teremos a necessidade de buscar uma vitória a qualquer custo em Goiânia. Se perdemos, faz parte. Não é vergonha perder para um time como o Atlético/GO, jogando na casa deles. Um empate, estará de bom tamanho. Se a vitória vier, bem, aí já vou começar a me animar.

O Brasil pelo Brasil, e dê-lhe ciuminho.

Abs.