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Em manhã de Nena, Brasil apenas empata

O Brasil jogou na manhã desse domingo contra o Tombense no estádio Beira-Rio, em Porto Alegre, e empatou em 2 a 2. O jogo foi marcado pelos dois gols do artilheiro Nena e pelo “gol” em que a bola não entrou a favor do Tombense.

O Brasil abriu o placar logo aos 5 minutos de jogo. Washington cruzou da direita e Nena colocou pra dentro. Aos 13 minutos o Tombense empatou com um gol em que a bola não entrou. Adeílson chutou para o gol e a bola bateu na trave e desviou no zagueiro Leandro Camilo. Antes da bola cruzar a linha, o zagueiro Xavante deu uma bicuda na bola e afastou o perigo, mas o bandeira Alexandre Kleiniche correu para o meio de campo com uma convicção absurda. Além da bola não ter entrado, o bandeira gaúcho estava muito mal colocado, era para estar na linha de fundo. No vídeo com os gols vocês poderão notar isso. Na segunda etapa Rogério Zimmermann tirou Soares e Cleiton e colocou Felipe Garcia e Cleverson. O time melhorou e partiu para o ataque. Mas foi em um contra ataque que veio a virada mineira, aos 33 minutos. Coutinho recebeu um belo passe de Adeílson, nas costas de Xaro, e tocou na saída do goleiro Eduardo Martini. Quando parecia que a primeira derrota com mando de jogo do Brasil estava por acontecer, Nena apareceu novamente. Aos 41 minutos Xaro cobrou um lateral na área e a bola respingou para Cleverson que errou o chute. A bola bateu em um zagueiro mineiro e sobrou para Nena que estufou as redes. O matador estava de volta. Mas sem tempo para muita coisa, o jogo acabou em 2 a 2.

A queda de rendimento do time é visível. Um pouco pela falta do papel do Amado no time, aquele atacante rápido que ainda não conseguimos encaixar com Márcio Jonatan e com Soares. E outra é que os adversários estão lutando para não cair ou para classificar, então cada jogo é uma decisão. Alguns jogadores já não estão rendendo o mesmo de rodadas atrás. Cleiton vem em uma decadência de qualidade incrível. Não acerta mais nada. Está na hora do Rogério ver essa terceira posição do meio-campo. Cleverson pode ser esse jogador porém o meia parece não ter condições físicas de jogar 45 minutos. Xaro também não vem desempenhando o mesmo futebol da primeira fase. O segundo gol do Tombense foi uma clara falha de marcação do lateral Xavante. Será que Kaká passará em branco pelo Bento Freitas? Brock seria uma opção defensiva pela esquerda? Mas temos certeza que o Rogério vai trabalhar forte com os jogadores durante a semana e ajeitará o time para o próximo jogo contra o Madureira, no Rio de Janeiro, no sábado às 11 horas.

E como é bom ver o Nena voltando a ser titular e marcando gols. Com a saída de Leandrão muito tinham dúvidas quanto ao rendimento do camisa 9 Xavante. Mas Nena é matador, é cirúrgico. Durante o primeiro tempo um torcedor questionou: “Pô, o Nena só fez e o gol e sumiu”. Amigo, o papel dele é esse, fazer gols. Como diz o o outro, “o Nena fede a gol”. Ele manja dos paranauê.

E a torcida do Brasil? Sem palavras. Quase 6.000 Xavantes estiveram em Porto Alegre. Não que duvidássemos da presença da torcida, mas com esse número realmente foi uma grata surpresa. Apoiaram e empurraram o time para o empate. Nunca duvidem da torcida do Brasil.

ÁUDIOS
*capturados da Rádio Pelotense AM

VÍDEO

Os gols da partida – GEBtv

Empate em Minas Gerais e invencibilidade mantida

Na tarde desse sábado o Brasil enfrentou o seu algoz da final da Série D do ano passado, o Tombense, jogando lá em Minas Gerais. A partida terminou 0 a 0 e manteve o Brasil na liderança do grupo B e invicto na competição. Na primeira etapa o time da casa comandou a partida e criou as principais chances de gol. Na segunda etapa o Brasil soube neutralizar as principais jogadas de ataque do time da casa e ainda criou algumas chances de gol. Alex Amado encobriu o goleiro Darley mas o zagueiro tirou a bola em cima da linha. E em cobrança de escanteio o zagueiro Fernando Cardoso desviou de cabeça e a bola explodiu na trave.

O resultado foi bom para o andamento do campeonato. Mais um ponto somado e invencibilidade mantida. Na abertura da rodada o Juventude venceu a Portuguesa por 3 a 2. Amanhã o Guarani enfrenta o Madureira, o Caxias pega o Tupi e o Londrina recebe o Guaratinguetá. Agora o Brasil volta ao Bento Freitas no próximo final de semana quando enfrenta o Madureira, no domingo, às 16 horas. Lembrando que o sócio Xavante precisará fazer check-in para garantir a sua entrada nesse jogo. Maiores informações nesse LINK do site oficial do clube.

FICHA TÉCNICA

Tombense: Darley; Gedeilson, Heitor, Alexandre (Matheus Lopes) e Anderson; Bruno Barra, Wagner Carioca (Betinho), Xaves e Magnum (André Gava); Valdo Bacabal e Adeilson. Técnico: Mabília.
G.E.Brasil: Eduardo Martini; Wender, Leandro Camilo, Fernando Cardozo e Xaro; Leandro Leite, Washington, Felipe Garcia (Galiardo) e Diogo Oliveira (Márcio Hahn); Alex Amado e Nena (Leandrão). Técnico: Rogério Zimmermann.
Arbitragem: Grazziani Maciel Rocha, auxiliado por Silbert Faria Sisquim e Felipe Souza Leal.
Cartões amarelos: Bruno Barra (Tombense); Washington, Wender, Galiardo (Brasil).
Local: estádio Antônio de Almeida (Almeidão), em Tombos-MG.

ÁUDIOS
*capturados da Rádio Pelotense AM

O guri que chora pelo Xavante | Fabrício Cardoso

O estádio Soares de Azevedo ainda cheira a tinta. Não conheci um habitante de Muriaé que não se derretesse de orgulho pela cancha, erguida “sem nenhum centavo público”, enchem o peito para dizer. Encaixadinho numa colina, respeitando o relevo acidentado da Zona da Mata de Minas Gerais, destoa da aridez poirenta nos arredores do Km 274 da BR-356.

Pouco depois das 19 horas de domingo, 16 de novembro de 2014, eu estava lá dentro, triturando as unhas com os molares, à espera da decisão por pênaltis. Notei uma agitação incomum nos companheiros encostados no parapeito, rente ao gramado. A Polícia Militar havia composto uma formação em linha diante da nossa torcida. Aos poucos, uma notícia correu arquibancada acima, em efeito telefone sem-fio. Coube ao Fábio Dutra, o rubro-negro mais fanático da Avenida Paulista, me dar o recado.

– Se o Xavante ganhar, não precisa pular para dentro do campo. A PM vai abrir o acesso ao gramado pela escada.

Até os soldados da PM de Minas sabiam que o Brasil de Pelotas estava muito perto de mais esta taça. Tínhamos chegado ali sem parar de cantar. Aí mora toda a dor por um infortúnio insignificante diante de um ano tão vigoroso. Colher a derrota nos movimentos derradeiros do certame é como tirar doce da boca de criança. Bem, não gosto de chavões, mas lancei mão deste como introdução para o ponto nervoso deste texto. A cada domingo como este, precisamos de alguma forma engrossar o couro emocional dos filhos para suportar o peso das frustrações esportivas.

– Eu devo ser louco. Estou acordando à uma e quarenta e cinco de um domingo para ver o Xavante.

Inácio é um veterano dos jogos do Brasil. Aos seis meses de idade, quando o sujeito ainda se desequilibrava sentado sobre as fraldas, introduzi-o nas artes de frequentar a Baixada. Em 2010, testemunhou sem soltar um bocejo o zero a zero medonho contra o Juventude, na falecida Série C, não esta aí, que estamos tão feliz por voltar. Até arriscou um comentário tático, que gravei enquanto controlava nos beiços a excessiva produção de saliva.

Mas, neste domingo, ele experimentaria algo novo. Pela primeira vez, subiria numa excursão de torcedores. Entre ida e volta, seriam 20 horas apertado na van alugada por xavantes residentes em Curitiba e São Paulo. Um experiência talvez sufocante para um menino de 13 anos. Tratei de eliminar qualquer concessão à preguiça.

– Tu vais ver nosso clube na final com 13 anos. Estou aqui, gordo e grisalho, e nunca vi – respondi.

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Foi um exercício retórico desnecessário, percebi depois. Quando o cara se acomodou no ônibus, se impregnou da excitação de todos viajantes e sorriu. Ali eu cri que ele não viajava para agradar o pai. Viajava por uma necessidade pessoal e intransferível de ver o Xavante em campo. “Não importa onde jogar, sempre vou te apoiar”, diz o cântico. Há de se ter coerência entre teoria e prática, oras.

Bueno, não vou chateá-los com pormenores de nossa experiência de pai e filho ao longo deste domingo, sob pena de ficar meio piegas. Vou me ater ao anticlímax da viagem. O Leo Dias errou o pênalti e, olhando um ao outro em desespero, fomos ao limite da nossa matemática até entender que o próximo, se convertido, daria o título ao Tombense. E assim foi. Ato contínuo, o Inácio me abraçou e foi descendo até minhas pernas, como se quisesse desaparecer no meu colo. Aquela experiência me trouxe os sentimentos ainda vivos de uma tarde do verão de 1981.

Estava com oito anos. Já morávamos em Porto Alegre. Meu velho, à época com menos idade do que tenho hoje, me levou para ver o Xavante contra o Inter, no Beira-Rio. Ficamos na arquibancada oposta ao Guaíba. Dali, vi o Silvinho, um ponta-esquerda negro e franzino, fazer o primeiro do Colorado. Busquei o olhar do meu pai e ali encontrei algum conforto. Mas quando o Silvinho fez mais dois, rapidinho, não suportei e caí num choro convulsivo. Custei a sentir a pressão dos braços dele me envolvendo. Tenho severas dúvidas se hoje, 33 anos depois, consegui me acalmar. Este negócio de ser xavante, a rigor, é um desassossego.

Com meu filho ali deitado sobre mim, imaginei como deve ter sido difícil também para o meu pai. A gente apresenta o futebol como uma norma cultural, e depois
transborda de culpa ao ver o filho sofrer por algo que, em tese, daria para viver sem. Eu só fui me recompondo do mal que o Silvinho me fez porque senti que aquele choro me distinguia. Um dia, entrei na Baixada e vi meu Tio Nadir, um xavante que me deixou muita saudade, falando sobre mim enquanto cutucava o companheiro com o cotovelo.

– Aquele é o guri que chora pelo Xavante.

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Na saída do Soares de Azevedo, o Inácio começou a ser consolado pelos companheiros da excursão. Diziam que, se ele quisesse mesmo seguir o sacerdócio, deveria se preparar para viver ainda muitos momentos de desconsolo como aquele. O cara se animou um pouco. Se aqueles caras chegaram à idade adulta confiantes, é porque a dor uma hora iria passar. Numa cidadezinha na divisa do Minas com o Rio de Janeiro, paramos e o Inácio mandou ver um pão com linguiça de dimensões amazônicas. Estava recuperando o apetite, via-se.

Depois do jantar, voltamos ao ônibus e ele se acomodou no banco ao meu lado. Encostou o rosto no meu ombro. Não demorou muito, senti seu corpo desfalecer por um relaxamento muscular. Já estava num estágio de sono mais profundo. E ali, sacolejando de volta para São Paulo, tive certeza de que o guri, que também chora pelo Xavante, tem envergadura emocional para levar esta paixão adiante.
Se Muriaé tem orgulho de seu estádio, eu tenho orgulho de todas as crianças que amam o Xavante.

Fotos e vídeo: Arquivo pessoal Fabrício Cardoso