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Turbulência | Pedro H. Krüger

No meio do trajeto, em 2012, nós passageiros fomos informados que o piloto foi substituído, assim como o restante da equipe. A viagem não foi muito tranquila, tampouco satisfatória, mas ao fim do voo ele nos garantiu que nos levaria a lugares inimagináveis. No fim, acreditamos na promessa e permanecemos em nossos assentos de classe econômica.

No ano seguinte, levantamos voo e até agora não conseguimos parar de sobrevoar novos territórios. Primeiro a Série A do Gauchão, em São Leopoldo/RS; depois Copa do Brasil, em Curitiba/PR; título do interior, no Rio Grande do Sul; Série D, em Muriaé/MG; mais um título do interior, também no RS; Série C, em Fortaleza/CE; Copa do Brasil, no Rio de Janeiro; e finalmente Série B, por todo o país. Que indiada! Uma trajetória e tanto!

Há poucos dias, quando nos mudamos à primeira classe, rumo a novos destinos, logo nos primeiros minutos de voo enfrentamos uma turbulência. Questionamos, assustados, o piloto sobre essa nova dificuldade. Na verdade, nós passageiros não lembrávamos mais o que era sofrer ou sentir medo. O piloto, pacientemente, nos disse que era uma breve tempestade. Continuamos, aflitos, a viagem turbulenta. Porém, até agora o piloto não conseguiu resolver a situação.

O tempo está passando e nada mudou. Para piorar, o combustível não vai durar para sempre.

Alguns passageiros, com medo de morrer, ou pelo menos assustados com a possibilidade de dar meia volta com o rabo entre as pernas ao ponto de partida, começam a exigir que o piloto abandone os manches e manetes para que eles mesmos, simples passageiros, passem a controlar a aeronave. De repente, num ato desesperado, alguns se autoconsideram pilotos com 200 horas de voo. Não são.

O piloto se nega a entregar e garante ter o controle da situação. Outros tentam defendê-lo, mas apresentam algumas condições para isso: certos membros da tripulação devem deixar seus postos – se vão precisar saltar, pouco importa, mas têm que sair. Mais uma vez, o piloto se nega. Relembra ainda que ele e sua equipe são os responsáveis pelas novas paisagens nas janelas, o conforto da primeira classe e os voos mais altos.

Para reforçar o seu argumento, aponta para baixo: tem gente lá embaixo que já prometeu “alçar voos maiores” e não conseguiu. Eu consegui junto com vocês! Quando é que nós fraquejamos frente às dificuldades?

O silêncio toma conta do interior do avião. Todos trocamos olhares desconfiados. Piloto, tripulação e nós passageiros sabemos que temos nossas razões. Estamos, à nossa maneira, corretos. O problema é que a turbulência não cessa e o medo de que o bico do avião aponte novamente para baixo está nos levando ao abandono da razão. É muita gritaria, empurra-empurra e pouca ação de todos os envolvidos. Afinal, estamos juntos no mesmo barco – ou melhor, avião. Subimos juntos, mas podemos cair da mesma forma.

Ninguém sabe como reagir. É a primeira grande turbulência em anos! Na verdade, estamos com os olhos cerrados à espera de que alguém grite palavras de alívio: ao alto e avante! A única certeza é que estamos na torcida – e que torcida! – para que a turbulência cesse para, enfim, chegarmos são e salvos em Tóquio. O nosso destino final.