Vencedor e estrategista

por Pedro Henrique Krüger

Não é absurdo supor que a semente para o momento atual do Grêmio Esportivo Brasil foi plantada ainda em 2004, na primeira passagem do técnico Rogério Zimmermann no clube dos Negrinhos da Estação. Porém, à época já foi possível colher uma “pequena” amostra dos frutos que ainda viriam. Ora, antes vamos combinar: com a torcida Xavante tomando todas as arquibancadas da cidade e com Claudio Milar voando em campo tudo ficou mais fácil numa segundona arrepiante de tão complicada, mas o comando foi essencial.

De cara, RZ nos presenteou com o Bra-Pel dos 9 contra 11. Na comemoração após um dos gols marcados na raça naquela final, bateu no peito, apontou para a nossa gente e vociferou: é nosso, é tudo nosso! Depois dos 90 minutos, antes da prorrogação, ainda disse o seguinte para os repórteres:

Agora não interessa mais o resultado da prorrogação. Não interessa mesmo! Último clássico, 11 contra 11, um baile nosso, 3 a 1 na casa do adversário… Agora com dois a menos?! Isso nunca eles vão ter, nunca! Por isso essa torcida é a maior!

Provavelmente, um dos segredos para os sucessos na Baixada passa pelo conhecimento dele acerca da torcida do Brasil. Ele chegou em Pelotas ciente de quem teria ao lado. Em seguida, veio o título da Segundona e o consequente acesso à Primeira Divisão após anos de sofrimento. Em 2005, a base do time continuou e fomos muito bem no Gauchão. Ficamos entre os classificados, buscando ainda aquele algo a mais, mas havia um 15 de Novembro endiabrado (e futuramente finalista) no estadual.

Pouco tempo depois, Rogério Zimmermann deixou a casamata rubro-negra. Um erro? Para muitos na época, sim. Com o privilégio de olhar para trás, podemos afirmar, hoje, que foi um acerto. Depois do Xavante, RZ obviamente continuou atuando em outros clubes – Santa Cruz-RS, Canoas e Cabense-PE, por exemplo. Ainda mais importante: estudou e para isso visitou, inclusive, grandes clubes europeus, como Real Madrid e Barcelona. O acúmulo de conhecimento e experiência culminou num retorno lógico ao Xavante, há exatos quatro anos, no dia 20 de maio de 2012.

De lá para cá, a história conhecemos bem. RZ montou uma espinha dorsal com os jogadores que tinha, contratou a dedo outros poucos e foi subindo degraus. Ano após ano, o Brasil respirou um novo ar, pisou em novos gramados e mudou a própria realidade. Da segundona estadual à segunda nacional. Atualmente, em 2016, vivemos o ápice dessa história – alguém ainda duvida do futuro?

Rogério Zimmermann com a camisa do Brasil cometeu erros, como qualquer ser humano, mas os superou com folga por conta das virtudes apresentadas ao longo do tempo. Mesmo assim, não foram poucos os que disseram que RZ é o mal do Brasil, mas questiono: se a pessoa que nos colocou entre os 40 times do país e nos possibilitou, entre outras conquistas, a disputa de três edições da Copa do Brasil, fez mal ao Xavante, então quem fez o bem?

Hoje, na data que celebra mais um ano de trabalho à frente do time do Grêmio Esportivo Brasil, Rogério Zimmermann tem como adversário o Atlético-GO, fora de casa. É mais um grande jogo em um respeitado campeonato, cujo foi conquistado após muito suor, às vezes até aos berros, e sacrifício de todos. É, quem sabe — e durante a trajetória dele por aqui é o que mais ocorre — mais uma vitória.

Parabéns, RZ, por ser um dos treinadores mais longevos do futebol brasileiro. Um feito e tanto. E obrigado por vestir a camisa Xavante como poucos, por ser vencedor e estrategista. Tens, também, o teu nome gravado na história.

Foto: Carlos Insaurriaga