Ser ou não ser

Tenho acompanhado com alguma atenção a discussão a respeito do público(a falta de) nos estádios brasileiros. Mais precisamente a opinião dos comentaristas esportivos do canal ESPN. O fato concreto e irrefutável é que o público nos estádios brasileiros é pífio, ridículo e vergonhoso, seja em que campeonato for. A quarta divisão do campeonato inglês possui uma média de público muito maior do que a primeira divisão do campeonato brasileiro. A exceção, que confirma a regra, fica por conta dos campeonatos no Nordeste, onde frequentemente os estádios apresentam um público um pouco melhor.

Exemplos não faltam. No RJ, no Campeonato Carioca deste ano, o Flamengo jogou para um público pouco superior a 300 pagantes. E estamos falando do Flamengo, clube de maior torcida no Brasil. Trezentos pagantes é público de pelada da firma. Aqui no RS não foram poucas as partidas com públicos que não cobriram nem as despesas de abrirem os portões. O nosso Xavante mesmo, campeão de público do interior, dono da Maior e Mais Fiel Torcida do Interior do RS, o Trem Pagador, não teve em suas apresentações em casa o público esperado.

O que acontece? Alguns destes comentaristas esportivos apontam duas causas como sendo as principais: custo dos ingressos e falta de promoção dos eventos.

A falta de promoção é evidente. Os campeonatos são mal organizados e geridos, as fórmulas não são atrativas e em muitos casos de difícil compreensão, os regulamentos são mal redigidos e não há um mínimo de estratégia de marketing. Há mais divulgação sobre os jogos que passarão na TV do que os que acontecerão nos estádios. Ouço muito falarem sobre um tal “marketing esportivo”, principalmente quando querem falar bonito para ganhar algum, mas o que o futebol brasileiro menos tem é marketing. Já vi promoção, propaganda e patrocínio, casos isolados e casuais, mas marketing mesmo, nada. Talvez menos que isto. Mas em relação ao futebol brasileiro não dá para dizer-se surpreso. Com a qualidade dos dirigentes da CBF e Federações, não dá para querer mais e melhor. A qualidade dos eventos não é preocupação que lhes aflija, muito menos o futuro do nosso futebol. Como alguém já disse, no longo prazo estaremos todos mortos.

Por muito tempo foi defendido que o problema restringia-se aos estádios, que eram ruins e, portanto, não atrativos. Estão aí as chamadas “arenas”. Vazias. Salvo raras e honrosas exceções. O Flamengo, no novo Maracanã, jogou a semi-final do Campeonato Carioca 2014 para menos de 4.000 pagantes. Na semi-final do Campeonato Gaúcho 2014, o chamado “charmoso Gauchão”, Grêmio x Brasil, na Arena Portoalegrense da OAS, um estádio com capacidade para mais de 50.000 espectadores, teve um público de pouco mais de 20.000 almas. Mesmo o primeiro gre-nal da final não encheu a Arena Portoalegrense da OAS. Aliás, a Arena Portoalegrense da OAS ainda não encheu. Agora precisam achar outra desculpa causa.

Por sua vez, o preço dos ingressos está completamente fora da realidade. É praticamente inviável uma família ir assistir a um jogo de futebol. Existem inúmeras outras opções de lazer, tão atrativas quanto, ou mais, a um custo muito mais baixo. Talvez metade. É só somarem os valores do ingresso, transporte(se for de carro, não esquece o estacionamento), cerveja, lanche, etc., e fatalmente para um casal e dois filhos chegaremos a algo possivelmente superior a R$ 400,00, talvez mais de R$ 500,00, se for em algum setor mais central em alguma destas novas arenas. É mecha. Some ao resultado desta soma o risco de confusão, ao trânsito ruim, a opção de jogo internacional de boa qualidade na TV e tudo mais que possa gerar justificativa, e ficará fácil de entender. Estamos no Brasil, com os salários daqui, e não na Alemanha.

No caso do GEB, o ingresso para uma única apresentação no Caldeirão chegou a custar R$ 40,00. É muito. Muitos dirão que sendo sócio o preço sairia baratinho, pouco mais, ou menos, de R$ 10,00 por apresentação. O que é verdade. Verdadeiro mas, a meu ver, equivocado. Não a conta, mas a estratégia.
Entendo que a campanha de captação de associados deve se dar em cima da emoção, do sentimento e da paixão. Não em cima da razão. Menos ainda se a razão for financeira. A estratégia de ingresso caro para forçar o Torcedor a se associar, funciona no curto prazo e quando o time está em ascensão. No médio e longo prazos, inibe a popularização. Afasta o Torcedor comum e aquele que está se iniciando como Torcedor. A situação piora se o time entrar em um período de maus resultados. O povo tem que voltar a ter o costume de ir ao estádio ver seu time. Esta é a base de tudo.

Entendo que a campanha de captação de associados deve se dar em cima da emoção, do sentimento e da paixão. Não em cima da razão. Menos ainda se a razão for financeira.

Estratégia como esta entre valor do ingresso x mensalidade de sócio é de difícil reversão. Deve-se separar o que é venda de pacote de ingresso do que é ser sócio. Como fazer campanha de sócio durante estes 4 meses sem futebol? Certamente não traçando um comparativo entre o valor do ingresso e a mensalidade de associado.

O sonho de todo profissional de marketing é fazer o seu público-alvo apaixonar-se pela marca, porque é sabido que uma compra acontece muito mais em decorrência da emoção do que da razão. O desafio chama-se fidelização. Não é por outra razão que as empresas investem tanto em campanhas de fixação e promoção da marca. Muito mais do que em informativos sobre as qualidades dos seus produtos ou de quão baratos são.

Clubes de futebol, e o GEB em especial, já tem isto pronto. Um torcedor não vira a casaca porque o clube foi mal no campeonato. Quem é Xavante, é Xavante sempre. Nasce-se Xavante. Não se é Xavante pelo clube possuir um plantel caríssimo, por participar de campeonatos de ponta, por poder assistir a grandes espetáculos ou por conquistar um título atrás de outro. Somos Xavantes por paixão, porque é bom, porque nos torna diferentes, porque somos admirados e respeitados, e porque não precisa explicar, basta sentir. Ser Xavante não é para qualquer um!

Esta paixão tem que ser usada a nosso favor para trazer mais público para as apresentações, fazer do “Sou Xavante” uma questão de bem-estar, de elevação da autoestima, de status e de prazer. Ser Xavante é bom! E Xavante é sócio e vai ao Bento Freitas em dia de apresentação.

O aumento do quadro social de forma estável e duradoura se dará pela conscientização de que o crescimento do clube se dará como consequência da união e participação de todos, e que isto é e será bom para nós mesmos, como indivíduos e como comunidade. Afinal de contas, o Xavante somos nós.


Ivan Schuster
Onda Xavante

 

 

 

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