Celebração à (r)existência | Tiago Bündchen

Eu, assim como muitos outros pelotenses, nascemos longe das grandes grifes do futebol. Mas escolhemos abraçar o caminho mais “difícil”, amando um clube da cidade. Óbvio que alguns conterrâneos, como em outras cidades, escolheram o caminho mais fácil, das grandes decisões pela TV, dos títulos, escolheram um time entre a dupla Grenal. Mas em Pelotas eles estão tão deslocados, que acabam saindo de contexto, ficando a margem.

Assim como outros xavantes, muito viajei pelo país seguindo o Brasil. Coisa de torcedor que não tinha disponível assistir seu time na TV. Talvez por isso a torcida tenha pego tanto gosto pela estrada. Num passado mais recente, posso recordar com facilidade longas jornadas, como a Belo Horizonte na Série C de 2009, ano em que viajar ficou mentalmente muito difícil, em função do acidente. Fui a Brasília, em decisão na Série D, longe dos milhões de reais dos patrocínios. Estive em Muriaé, e também em Fortaleza, onde o impossível aconteceu. Dentro do estado, Porto Alegre é como fazer um deslocamento para a Praia do Laranjal. Cada curva para Caxias do Sul já é decorada.

Bem, isso tudo para salientar como é impressionante a forma afrontosa que soa nossa existência nos ouvidos da MAIORIA dos torcedores e simpatizantes da dupla Grenal. Não admitem nada que saia da dualidade. Para estes, a vida é binária, é colorada ou tricolor. Se ofendem com nossa audácia em desafiar, em acreditar que é possível vencer, mesmo frente a um abismo colossal que distancia as duas realidades. Imaginem Madri ficando tão incomodada com gaúchos, porque estes planejavam “acabar com o planeta”? Me parece ser este o sentimento dos grandes da capital. Mas, afinal, como se mede grandeza? São os títulos? A estrutura? O dinheiro? Cotas da TV? Bom, nisso estamos bem atrás, mesmo. No estadual, a dupla da capital recebe cerca de dez vezes mais recursos da FGF que o Brasil. No campeonato nacional, essa diferença aumenta. O patrocínio estatal segue a mesma linha.

Mas então, como nos atrevemos a competir? Ah, amigos, é a nossa essência. E pegamos mais gosto pelo desafio, porque incomoda. Nesse momento, os grandes ficam do nosso tamanho, nos dão importância surreal, respondem, se irritam, corneteiam, e rivalizam com um pequeno clube centenário do sul do sul do Brasil.

Domingo, 08 de abril de 2018, é dia de celebrar a vida, a amizade e a nossa existência. Vou ao Bento Freitas esperando uma vitória, para coroar o nosso campeonato, para celebrar nosso crescimento, nossa sina de Davi, de Asterix, de Espartanos. Mais do que a vitória, que pode vir ou não, óbvio, continuaremos cultivando o paralelo, a 3ª via, a afronta ao lógico. Continuaremos orgulhosamente Xavantes.

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