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O Maracanã precisava do Xavante | Fabrício Cardoso

Pelotas há muito não comporta a quantidade de energia nos braços e cérebros de seus filhos. Milhares, com o coração em frangalhos, se jogam Ponte do Retiro acima. Há quem culpe os acanhamentos da economia. Eu, com a autoestima mais alta que o terraço do Banco do Brasil da Lobo da Costa, entendo como excesso de sagacidade no povo. Talvez nem Londres, Paris, Nova York e outros vilarejos fossem capazes de absorver tanta gente boa. Saímos pelo mundo em missão quase sacerdotal, pelo bem de quem vai nos receber. O resto é saudade.

Pois uma conversa recorrente entre pelotenses desgarrados gira mais ou menos assim:

– Tchê, tens ido a Pelotas?

– Tenho.

– Que tal?

– Sempre volto de lá deprimido?

– Por quê?

– Ah, sei lá, a coisa parece que não anda. O sujeito fica lá, morando na mesma casa, fazendo as mesmas coisas, examente como 20, 30 anos atrás. Só muda o cabelo, que fica mais branco ou então desaparece.

Vejo aí uma confusão entre permanência e decadência, que termina por ser injusta e contraditória. Não tenho orgulho do mesmo esgoto a céu aberto, do mesmo buraco de rua na mesma rua sem pavimentação, tipos comuns da paisagem local. Mas nutro um profundo respeito existencial por quem decidiu ficar. Jamais os vi frustrados, pelo menos por esta opção. Quem deixa nossa pasmaceira úmida, por sua vez, se mete num jogo asfixiante. Trabalha-se loucamente em sacrifício do tempo na companhia das únicas pessoas que se importarão conosco quando o mercado se cansar da gente. Giramos uma roda insana atrás… de quê, mesmo?

***

Vinha mergulhado nestes pensamentos às 19h de 18 de março de 2015. Queria entender por que um choro fermentava na altura da garganta desde que, duas horas antes, eu pusera os pés no Rio de Janeiro. Só interrompi a viagem porque o metrô carioca vertia pessoas pelas janelas, quase literalmente. Tive a impressão de ver alguns passageiros com a bochecha achatada no vidro da porta, tal a pressão da multidão no vagão.
Num movimento de extrema coragem, entrei na Linha 2 do Metrô carioca, em direção a Pavuna, rogando por chegar vivo ao Maracanã. Apertado como bota de gaúcho com meia soquete, ainda ouvi a flauta de um flamenguista, que reconhecera o distintivo do nosso amado clube ao meu peito.

– Vocês afinaram lá, hein?

– Pois é. Mas já estamos orgulhosos de estar aqui – desconversei com humildades cínicas, mantido naquele firme propósito de chegar com vida ao Maracanã.

Na estação do estádio, abri caminho com os ombros para conseguir descer do trem. Parei ali na plataforma, para recuperar o ar. Foi quando ouvi o apito anunciando a partida da composição. Dei dois passos para trás e, com o pulmão já reinflado, gritei para dentro do trem.

– Dá-lhe, Xavanteeeeeeeeeee!!!!

Depois desta imprudência, tive certeza que voltaria vivo para casa.

***

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Meus pensamentos, aqueles entre o ficar e o partir, ressurgiram diante do primeiro rosto pelotense encontrado nas cercanias do Maracanã. Era meu amigo, colega dos tempos de Zero Hora, o meio fotógrafo e meio poeta, mas ambos talentos integrais, Nauro Júnior. O cara tinha vencido 1,8 mil quilômetros entre as duas cidades maravilhosas a bordo de um Fusca. Tudo para registrar o Xavante contra o Flamengo.
Comecei a entender então o que aquela noite representaria. O Nauro resolveu ficar. O Nauro ousou viver mais com menos. Na mão dele, os objetos se humanizam, ganham nome. Poderia ter um carro zero, mas prefere o Segundinho. Não tenho testosterona para bulinar carros como ele, mas reconheço a beleza desta relação num tempo de culto ao descartável. É um jeito de viver que mimetiza Pelotas como cidade e como espírito.

Não quero bancar o hippie, criticando as ambições que movem o mundo. Sem elas, o computador que ora nos une não existiria. A humanidade tem uma dívida assombrosa com os inquietos de todos os quadrantes. Mas há um outro jeito de se levar a existência. É urgente que reconheçamos a beleza de se estar.

No intervalo do jogo, flanando de contentamento com nosso empate heroico e o embate de igual para igual contra o Flamengo, encontrei o Pé Grande do Fragata na copa do Maracanã, um amigo desde os idos em que a distância não me obrigava a ficar longe da Baixada. Depois de mandar ver num pacote de biscoito Globo, subimos pela rampa que nos reconduziria às arquibancadas. Deparamos então com uma vista apoteótica do distintivo do Brasil de Pelotas no telão do, apesar das reformas cosméticas, ainda o mais mítico estádio do mundo. Mirei nos olhos do Pé, que estavam como os meus, cobertos por aquilo Chitãozinho e Chororó chamam de nuvem de lágrimas.

Como era bom ter chegado até ali, sem jamais ter entendido que a única coisa que faz sentido é chegar ali. As emissoras esportivas ficaram embasbacadas com a alegria da xavantada ao término do jogo. A torcida do Flamengo nos aplaudia. Os jogadores deles nos elogiaram. Tive dó deles, tive dó de mim. Estamos todos vitimados pela falsa noção de sucesso.

O mundo precisa desta especialidade, meio pelotense, meio platina, de encontrar o suficiente naquilo que os outros insistem em achar pouco.
Por isto, como bom pelotense que cruza a Ponte do Retiro, o Xavante fez mais bem ao Maracanã do que o Maracanã fez ao Xavante.

***

Nota de rodapé: Deitado como um mendigo na frente do Santos Dummond, à espera do voo de volta para casa, perdi (ou furtaram) meu celular.
Um jornada que nos recomenda o desapego das coisas que se compram só poderia ter terminado assim.

O show não pode parar | Ivan Schuster

Tive a oportunidade de ir ao Maracanã assistir a apresentação Xavante frente ao Clube de Regatas do Flamengo, válida pela Copa do Brasil 2015. Meu amigo e companheiro, foi uma daquelas noites que lembrarei até o fim dos meus dias. O Rio de Janeiro continua lindo. Só que agora com um pouco mais de alma, amor e alegria.

Segundo narrado pela imprensa, éramos um número ao redor de 500 almas agraciadas – eu acho que mais perto dos 1.000 do que dos 500 – frente a mais de 10.000 do lado de lá. Mas, assim como o nosso time, em momento algum nos rendemos. Cantamos a plenos pulmões por mais de 90 minutos. Muito além do término da apresentação. Um espetáculo memorável, com reconhecimento até mesmo daqueles que se apresentam como a maior torcida do Brasil e uma das maiores do mundo. Obrigado pelas gentis palavras de reconhecimento dos jogadores do rubro-negro carioca e pelos aplausos de seus torcedores. #TQA

Perdemos e fomos desclassificados, é verdade. Mas caímos em pé, de cabeça erguida. O time jogou fechado, procurando uma bola para escapar e encaixar o contra-ataque. Não apareceu. Ao menos jogamos bola, tentamos e lutamos. Perdemos, paciência. Eu sei de uns que não perderam no Maracanã, até porque não estiveram lá. Outros, estiveram há tanto tempo que ninguém lembra mais.

Como sempre, prováveis pênaltis não são marcados a nosso favor. Para darem um pênalti a nosso favor, tem que ser muito pênalti. E olhe lá. Tem que sangrar, estalar o osso, triturar a rótula ou segurar a bola e levar para casa, coisa pouca. Mas não chorarei, os secadores que o façam, porque estão sofrendo muito. Para mim ficou de bom tamanho. O Maraca é nosso! Chora, secador! E não esqueçam, a inveja é uma merda.

Acho que o GEB foi exitoso nesta Copa do Brasil. Além da vantagem financeira obtida, conseguimos uma enorme exposição na mídia nacional. Exposição do time, do clube e da Torcida Xavante. Falaram, falam e continuarão a falar sobre nós por um bom tempo. Isto vale muito. Muito mais do que podemos avaliar agora. Até o co-irmão foi na carona, que é a única forma de serem falados além da Ponte do Retiro. #TQA

Podemos e devemos capitalizar toda esta exposição, pois foi uma exposição qualificada e diferenciada. A questão central não é se o time atua em um 4-4-2, 4-3-3, 3-2-2-3 – ou seja lá os números que quiserem; o fato do Rogério Zimmermann estar a frente do time há 3 anos; estarmos nas primeiras posições no Campeonato Gaúcho; ou outro assunto comum qualquer. O fato marcante é sermos um clube feito para e pelos seus Torcedores, que não nos deixamos impressionar pela cor do ouro. Não torcemos para o dinheiro dos outros, mas para o que é nosso. Somos Xavantes, e isto nos basta. Somos pobres, mas somos limpinhos.

Em várias ocasiões ouvi os comentaristas da ESPN atestarem que o GEB é um dos últimos, se não o último, clube que ainda mantém as raízes do futebol. Somos a tradição pura, em seu estado bruto. Nossa Torcida não vai ao estádio para assistir, mas participar do espetáculo. Somos o show. Futebol não é teatro e torcedor não é cliente. Nesta quarta-feira, no Maracanã, isto ficou mais uma vez provado. Tem que olhar, para aprender. Esta Torcida é de … #TQA

Acho que, inclusive, poderíamos pensar em como usar tudo isto a nosso favor neste momento de necessidade de reconstrução da nossa casa. Pensemos, pois. Nem sempre o cavalo passa encilhado.

Vou encerrar, agradecendo e parabenizando o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, pelo apoio dado as idéias do Bom Senso Futebol Clube, que foram incorporadas a MP apresentada hoje pela presidenta Dilma Roussef. O caminho é este. Gostaria de ver o GEB também apoiando formalmente esta MP. A luta continua, companheiro. Se não lutarmos pelo que é certo, na próxima Copa poderá ser 10 x 0.

Abs.


Ivan Schuster
Onda Xavante

A apatia, a mediocridade e o Maracanã | Ivan Schuster

Perder é sempre ruim. Não foi a primeira e nem será a última vez que perderemos. Faz parte do esporte. Não há torcedor que não entenda isto. O que dói é ter que aceitar uma derrota sem luta. Perder sem reagir, sem tentar, de forma apática. Ainda mais para uma equipe que tem o Paulão. Credo!

Na minha modesta opinião, faltou-nos arrojo, força, vontade de vencer. E acredito que não tenha sido só eu a ter este sentimento. Os Torcida Xavante presente ao estádio, como sempre em grande número, também sentiu isto. Tanto isto é verdade, que também não mostraram aquela vibração e alegria que estamos acostumados a ver. Creio que sentiram a falta da correspondência em campo. O início foi de festa e vibração, e aos poucos o entusiasmo foi murchando. Time e Torcida são um só. Se o time não mostra vontade, não há Torcedor que consiga vibrar.

Entendo que tínhamos quatro apresentações complicadas e muito importantes: Passo Fundo, Internacional de Porto Alegre, Flamengo do Rio de Janeiro e os Polenta de Vergamota de Caxias do Sul. Fracassamos nas duas primeiras, que acredito eram as menos complicadas. Podemos encordoar quatro derrotas seguidas, o que não é bom para ninguém.

Crise? Longe disto. Que silenciem-se as cornetas. Já ouvi no domingo que o RZ é isto e aquilo. Tem gente que não perde a oportunidade. Mas eu entendo, faz mais de dois anos que não têm o que cornetar. Devem estar aflitos, ansiosos. Onde se viu, termos um técnico competente, um time competitivo e uma diretoria que está organizando o clube? Não, algo tem que estar errado. Trocar é preciso. É assim que pensam. Enxergam sempre a metade vazia do copo. São os Trombetas do Apocalipse. Aposto que devem estar dizendo, “Viu, eu não disse? Tem muito volante, não vamos conseguir”. Vida que segue.

Estava olhando a tabela das próximas apresentações e percebi que o nosso adversário direto será os Polenta de Vergamota. Das quatro próximas apresentações, teremos duas em comum, Aimoré e VEC e o confronto direto já no próximo sábado. Cruzeiro e Ypiranga terão jogos mais difíceis e deverão perder fôlego. Em resumo, nesta reta final o bicho vai pegar.

Leio hoje em um jornal aqui de Porto Alegre que o ECP não mais cederá a Boca do Lobo para as nossas apresentações a partir do final de março. Com isto, apenas confirmam toda a mediocridade que lhes é atribuída e que sempre tentaram negar. Qual o motivo alegado? Cederem o estádio ao GEB causa-lhes prejuízo na imagem. Eu acredito até que, ao contrário do alegado, obtiveram vantagem, pois foram citados na imprensa esportiva nacional diversas vezes. Algo que dificilmente conseguem apenas por seu méritos, salvo em situações como a de participar de uma competição inteira sem uma única vitória.

Mas eu até entendo. Acusaram o golpe e está difícil de levantar. Agora ficou sacramentada a diferença entre as torcidas, como se houvesse alguma dúvida. O melhor a fazer, seria aceitar. Dói menos. Fazer o que, ciúmes é um transtorno difícil de tratar. Parecem crianças mimadas que, quando estão perdendo, acabam com o jogo. Meu conselho: cresçam e apareçam. Façam por merecer. Ficarem sentados, chorando, não lhes levará a lugar algum. Simples assim.

Só fica uma dúvida: será que o dirigente que apanhou do torcedor tremeu a perna? Se for isto, resta-me uma palavra: lamentável.

Mas, neste momento, tudo o que se refere ao Campeonato Gaúcho entra em modo de espera. Quarta-feira tem Maracanã com transmissão ao vivo para todo o Brasil. O Maraca é nosso! Chora secador! O Xavante está na Copa do Brasil e se apresentará – o GEB não joga, apresenta-se – frente ao Clube de Regatas do Flamengo. Coisa para poucos. E a choradeira rola solta.

A missão é das mais difíceis, mas não está morto quem peleia. Dá para fazer o crime. Na partida no Bento Freitas perdemos em decorrência de nossos próprios erros. Um empate ou uma vitória nossa não teria sido um resultado absurdo, pelo que foi apresentado em campo. Eu acredito, e vou conferir.

Abs.


Ivan Schuster
Onda Xavante

De Chico em Chico…

Parece choro de perdedor, e até pode ser. Mas é impressionante como querem matar o futebol do interior no Rio Grande do Sul. O Sr. Francisco Neto, árbitro experiente da FGF, teve seu nome envolvido em uma polêmica com o treinador do Grêmio, Luis Felipe Scolari, durante um jogo na semana passada. O treinador o chamou de “Chico Colorado”. Então o que a comissão de arbitragem da FGF fez na rodada seguinte? Escalou o Chico Neto para um jogo do Internacional. Equívoco? Burrice? Não, senhores. É coisa de gente pequena. Birra. Gente que quer acabar com o futebol do RS. Obviamente que somos cientes que o Brasil não fez um bom jogo. Mas some o mau jogo do Brasil e a péssima arbitragem do Chico Neto, o resultado é a decadência do futebol do interior.

Abaixo um pequeno resumo dos erros cruciais da arbitragem na partida de ontem. E assim os Chicos, da presidência à arbitragem, vão matando o que resta de puro no estado, o futebol de verdade, o futebol do interior.

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